De acordo com o último Censo Demográfico do IBGE (2010), 24% da população brasileira, aproximadamente 45 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência. Ainda segundo o instituto, essas pessoas possuem uma renda disponível de 5,3 bilhões de dólares e são potenciais consumidores de marcas e produtos. Mesmo com esses dados significativos, existe entre as empresas o mito de que criar estratégias de acessibilidade é algo caro e difícil para elas investirem.
Diante deste cenário, Débora Line, Designer e UX Research Sênior da Rethink, empresa que cria e repensa produtos digitais, destaca quatro pontos essenciais para criar um produto digital com acessibilidade para tornar um negócio acessível e democrático, com foco no cliente, aumentando o seu potencial de sucesso. Confira abaixo:
Débora ressalta que o primeiro passo é a integração entre as áreas que vão criar ou repensar uma solução digital. “A equipe de produto faz uma parte, o design faz outra e o desenvolvimento também. Então, a acessibilidade precisa ser pensada em todos os setores que se interligam na criação de um produto”.
Ela esclarece que é preciso conhecer muito bem o processo e o padrão a ser seguido para criar um produto digital, pois para fazê-lo com acessibilidade é fundamental quebrar esses padrões normativos para dar lugar aos padrões da WCAG. "Quando as pessoas que criam o produto digital não têm uma formação voltada para acessibilidade, muitas vezes, elas deixam de perceber questões no design que podem prejudicar a compreensão da mensagem por esse público. A escolha de textos, imagens e ícones, por exemplo, precisa ser pensada de uma forma diferente do padrão para garantir a acessibilidade. Por isso, é fundamental ter profissionais especializados nisso em um projeto.”, explica a designer.
Por isso, quando se fala em acessibilidade, é imprescindível compreender que existem vários tipos de comprometimento que um público pode ter para acessar um produto digital, como ser cego ou ter baixa visão,perda auditiva, habilidades motoras reduzidas, entre outros. “É nosso dever, como profissionais, pensar estratégias para incluir pessoas com habilidade motora, visual, auditiva ou cognitiva reduzida.", afirma Débora. O uso de comunicação multissensorial é uma das alternativas para esse desafio. "Vídeos com legendas, textos com áudios e imagens com descrições tornam um produto muito mais inclusivo", comenta a designer.
Um ponto de atenção que a profissional destacou foi a importância de testar os produtos digitais com pessoas que realmente possuam algum tipo de limitação para usar um produto. É por meio desses testes, que a efetividade de uma plataforma pode resultar em um produto digital acessível e democrático. “Por incrível que pareça, fazer testes com pessoas reais, com as características que procuramos, não é algo fácil, já que as empresas nem sempre identificam quem são os seus consumidores com algum tipo de limitação de acesso”.
Para a Débora, pessoas com deficiência e suas realidades moldaram diversas tecnologias e inovações. Por causa disso, acaba sendo contraditório as empresas não pensarem nas pessoas com deficiência na hora de propor produtos digitais. “A pessoa com deficiência tem desejos, tem dinheiro e consome. Assim, as empresas e os profissionais de tecnologia necessitam compreender e ter a sensibilidade de que a acessibilidade é muito mais que um amparo, é um plano de negócio", conclui Débora.