02/02/2023 às 15h24min - Atualizada em 04/02/2023 às 00h00min
Aplicativo que cria redações escolares preocupa especialistas
ChatGPT, software de Inteligência Artificial, gera textos com qualidade, mas é incapaz de reproduzir marcas pessoais e ainda não passou por critérios adequados para garantir transparência
SALA DA NOTÍCIA Kasane Comunicação Corporativa
Divulgação Um aplicativo de Inteligência Artificial (IA) que escreve redação para estudantes tem levantado preocupações de profissionais da educação e do direito pelo mundo. De acordo com reportagens do Bom Dia Brasil e do Fantástico, escolas de Nova Iorque chegaram a proibir o uso do mecanismo. Trata-se do ChatGPT, um software de IA generativa, criado pela empresa OpenAI, que é capaz de compreender perguntas, fornecer respostas de qualidade e tem sido utilizado para diferentes finalidades, como é o caso das redações escolares. Para o professor de Literatura e Redação do Colégio Integrado, Fred Schmaltz, a maior preocupação não está na ferramenta utilizada, mas sim no desafio de fazer os estudantes desenvolverem reflexões complexas e entenderem que escrever uma redação é um ato de cidadania. “Talvez seja o maior emblema pedagógico que nós estamos vivendo, porque sempre que se pede para alguém escrever um texto existe um propósito e, nos últimos anos, qual é o propósito de fazer as pessoas escreverem na escola?”, indaga o professor. Segundo ele, a depender da abordagem da instituição de ensino ou do docente, a escrita pode acabar sendo reducionista, isto é, estar vinculada apenas a um resultado acadêmico, como fazer uma prova de vestibular. “Isso pode fazer o estudante se viciar em um modelo pré-fabricado, fazendo-o perder a sua autonomia”, observa. Por isso, Fred acredita que a questão não é se a IA vai substituir a habilidade do aluno na escrita, mas o quanto ela pode tornar o processo de ensino-aprendizagem mais moroso e dissociado de um contexto social. Desde muito tempo a questão da originalidade textual preocupa os professores, o que faz com que esse movimento provocado pelo ChatGPT não seja exatamente novo. Antes da internet estar presente na educação, as pessoas recorriam às enciclopédias e revistas, nas quais até copiavam as informações do material. Contudo, hoje é possível fazer essa checagem de plágio com maior facilidade. “Então, quando surge uma ferramenta dessas, as pessoas criam teorias apocalípticas, mas a máquina ainda é uma máquina e existem marcas pessoais que o robô não será capaz de reproduzir”, pontua Fred. Dentro do ambiente escolar, ele garante que o uso da IA será facilmente detectável, porque cada série tem uma habilidade e uma competência linguística em desenvolvimento a serem avaliadas. Falta de transparência Outro ponto crítico relacionado ao uso dessa tecnologia é a questão da regulamentação do ChatGPT. Nesse sentido, o advogado e professor de Direito Digital Rafael Maciel destaca que o algoritmo – espécie de sistema que classifica informações digitais – utilizado pelo aplicativo não apresenta qualquer transparência. “Muitas vezes, temos uma ânsia de usar determinada inovação tecnológica, sendo que, talvez, ela ainda não tenha sido analisada com os critérios adequados para evitar vieses, por exemplo, como os discriminatórios ou de ilicitudes, como é o plágio”, sublinha. Isso porque a performance do algoritmo pode favorecer determinados grupos de pessoas e reproduzir preconceitos de gênero e raça, dentre outros. Maciel avalia que esse é um dos motivos para que o marco regulatório da Inteligência Artificial esteja em vias de ser uma realidade no Brasil. Em dezembro de 2022, foi apresentado ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, o relatório final de uma proposta para a legislação pela comissão de juristas encarregada. De acordo com a Agência Senado, a equipe foi formada em março de 2022 para subsidiar a elaboração do substitutivo dos Projetos de Lei 5.051/2019, de autoria do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN); 21/2020, do deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE); e 872/2021, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). Tais projetos têm como finalidade determinar os princípios, as regras, as diretrizes e os fundamentos para regular o desenvolvimento e a aplicação da IA no País.