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24/04/2023 às 16h43min - Atualizada em 25/04/2023 às 00h01min

As relações exteriores dos 100 dias do governo Lula  

* Rafael Pons Reis Uninter 

SALA DA NOTÍCIA Valquiria Cristina da Silva Marchiori


“Nosso protagonismo se concretizará pela retomada da integração sul-americana, a partir do Mercosul, da revitalização da Unasul e demais instâncias de articulação soberana da região. Sobre esta base poderemos reconstruir o diálogo altivo e ativo com os Estados Unidos, a Comunidade Europeia, a China, os países do Oriente e outros atores globais; fortalecendo os BRICS, a cooperação com os países da África e rompendo o isolamento a que o país foi relegado. (...) O mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à crise climática e um exemplo de país social e ambientalmente responsável (...)”. Assim foram resumidas as pretensões de inserção internacional do país nas palavras do presidente Lula, em seu discurso de posse no Congresso Nacional, no primeiro dia de seu terceiro mandato. 

Apenas alguns meses após assumir o cargo, a afirmação está em consonância com os resultados das ações do Ministério das Relações Exteriores do novo governo. Entre a defesa da maior aproximação do Brasil com seus vizinhos sul-americanos, a partir de sua liderança nos processos de integração regional, a necessidade de maior diversificação de atuação do país na política internacional, o maior protagonismo do país nos principais temas e agendas internacionais. O saldo até agora tem se mostrado coerente e alinhado com o perfil da atuação internacional pretendido pelo atual presidente. 

Sabe-se que os primeiros 100 dias de governo não são suficientes para antever os resultados do cálculo estratégico de um país ao longo de quatro anos, em um ambiente internacional, fortemente polarizado pela guerra da Ucrânia e tensões entre Estados Unidos e China. Entretanto, esse período é entendido por analistas para identificar os principais vetores e tendências da atuação governamental. 

A composição da equipe criada por Lula responsável pela formulação e implementação da política externa, diz muito sobre o perfil de inserção internacional pretendido pelo Brasil. O ministro das Relações Exteriores, o diplomata de carreira Mauro Vieira, além de ter sido chanceler do governo Dilma entre 2015 e 2016, tem grande experiência na cena internacional, foi embaixador na Argentina, nos Estados Unidos e nas Nações Unidas. Outros diplomatas experientes, que fazem parte do time, destacam-se a secretária geral do Itamaraty, a Embaixadora Maria Laura da Rocha, e o ex-ministro Celso Amorim, como assessor especial da Presidência da República. A escolha desses nomes para compor o staff responsável para a edificação da razão de estado do país em matéria internacional, corrobora com o discurso do presidente em adotar a conhecida estratégia da diplomacia brasileira, intitulada “diplomacia altiva e ativa”, que consistia na premissa de que o Brasil deveria construir uma presença mais proativa e influente no cenário internacional, assumindo uma posição de liderança na busca de soluções para problemas globais, um maior envolvimento em organizações multilaterais como a ONU, o G20 e a OMC, além de uma maior cooperação com outros países em questões como mudanças climáticas, segurança alimentar e combate à pobreza. 

Ao longo do último trimestre, algumas ações da diplomacia brasileira revelam as estratégias levadas a cabo, tendo em mira recuperar o maior ativismo do país nos âmbitos regional e multilateral. As duas primeiras viagens de Lula, Argentina, e Uruguai, sinalizam a importância atribuída ao espaço sul-americano, em especial, o Mercosul, em face do ensejo de reconstrução da imagem e do papel do Brasil na condição de líder regional. Já no âmbito multilateral, especialmente na ONU, as estratégias escolhidas consistiram em áreas tidas como prioritárias na agenda do novo governo: meio ambiente, direitos humanos, combate à fome, e na solução pacífica de controvérsias. 

Já na condição de presidente eleito, Lula propôs na COP 27, no Egito, uma aliança global a fim de combater a fome em todo o mundo, e ofereceu o Brasil como sede da COP 30, em 2025. Além da busca de recuperar o papel de protagonista na área ambiental, o governo Lula montou uma campanha para recuperar uma cadeira no Conselho de Direitos Humanos da ONU, bem como fazer parte do Conselho Permanente do Conselho de Segurança.   

A aproximação com os Estados Unidos, em sua terceira viagem internacional, garantindo a manutenção de entendimentos mútuos sobre democracia, comércio e mudança climática, faz parte de uma manobra de Lula de aumentar seu capital político, no sentido de relançar o Brasil como um player global. A visita de Celso Amorim a Moscou e Paris para tratar sobra a invasão à Ucrânia é um sinal de que o país busca se credenciar como possível mediador dos termos de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. À guisa de conclusão, o trabalho da diplomacia brasileira será duro, uma vez que a conjuntura e os constrangimentos externos são, não apenas substancialmente diferentes, mas formidavelmente mais complexos em relação aos de 2003. A questão é saber se Lula conseguirá manter uma política de equidistância em relação às tensões EUA-China e à guerra na Ucrânia, em que pese o recente acordo assinado com a China para abandonar o dólar nas relações comerciais entre os dois países. 

*Rafael Pons Reis Uninter é doutor em sociologia política e professor da Uninter -Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança (ESGPPJS)- Professor do Bacharelado em Relações Internacionais 

 

 

 

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