Monarca do reino do Bailundo, no Planalto Central da República de Angola, Ekuikui VI exerce uma liderança respaldada em costumes tradicionais. O reino foi criado por volta de 1700 e já teve status de independente. Atualmente, não é reconhecido como um estado, apesar de o rei ter influência sobre a comunidade tradicional local.
“É a razão de estarmos aqui. Temos muito trabalho aqui no Rio de Janeiro. Visitar os nossos irmãos e reduzir um bocado da saudade que o oceano, ao longo de muito tempo, não permitiu”, disse.
Apesar de o português ser o idioma oficial em Angola, Ekuikui VI fez questão de conversar com jornalistas em umbundu, a segunda língua mais falada no país africano. O embaixador do reino, Castelo Ekuikui, atuou como intérprete.
O líder tradicional angolano explicou que a visita é uma forma de cumprir um desejo de ancestrais. “Desde sempre os nossos ancestrais sonharam visitar o Brasil para uma visita aos seus filhos que foram retirados da África de uma maneira muito brutal”, explicou.
Ekuikui VI ressaltou que a viagem é também para explicar que os negros escravizados trazidos para o Brasil “não são filhos de escravos, são filhos de reis e rainhas da África”.
Outro objetivo da passagem pelo Brasil é “constatar o que foi preservado de hábitos e costumes da África, de Angola e do nosso reino. Hoje, o Brasil é uma grande nação porque, na verdade, os africanos escravizados fizeram muito trabalho, e os seus descendentes continuam a trabalhar”, disse o rei do Bailundo, que lembrou que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência angolana, em 1975, após séculos de controle português.
Referência em assuntos ligados à identidade e resistência da população negra, o babalaô Ivanir dos Santos se encontrou com Ekuikui VI em um evento no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (Muhcab).
“Para nossa dignidade, nossas resistências, nossa comemoração, [essa visita] é muito significativa. O maior herói nacional negro é Zumbi dos Palmares, [ele] é de origem bantu. O rei é de um tronco bantu”, disse à Agência Brasil, referindo-se ao tronco linguístico relacionado a diversas etnias africanas.
“É uma boa sinalização para se pensar o Brasil com mais diversidade, com mais respeito”, afirmou o sacerdote, que citou influências africanas na cidade.
“A marca da cultura do Rio de Janeiro é dessa cultura africana, seja o samba, a capoeira, o jongo ou o delicioso angu”, especificou.
Além do Muhcab e do Cais do Valongo, a região da Pequena África reúne pontos com a marca da ancestralidade africana. Um deles é o Cemitério dos Pretos Novos, onde eram despejados corpos de escravizados que morriam durante a travessia do Oceano Atlântico ou logo que chegavam ao novo continente.
Outro lugar de referência é a Pedra do Sal, onde existe uma comunidade quilombola. Os primeiros terreiros de candomblé da cidade foram fundados nas imediações da Pedra do Sal.
Aos 39 anos, Ekuikui VI Tchongolola Tchongonga é o 37º soberano do reino do Bailundo. No fim de outubro, esteve em São Paulo e Santa Catarina.
A visita ao Rio, que inclui conhecer o Complexo de Favelas da Maré, na zona norte, e o Quilombo do Camorim, na zona oeste, foi promovida pela empresa de comunicação DiversaCom em parceria com o centro de estudos UNIperiferias.