Nos cincos dias de conferência, realizada em Brasília, passaram pelo evento outros nomes da música brasileira: Fafá de Belém, Paulinho da Viola, Diogo Nogueira, Paula Lima, Salgadinho, Renegado e Johnny Hooker.
O palco Diversidade recebeu a cantora Ellen Oléria, capoeiristas, DJs, o cantor de música regional gaúcha, Ernesto Fagundes e as drag queens Organzza e Nágilla Gold Star.
Representante a arte transformista, Nágilla cantou uma canção de autoria de Ekena, com tema de discriminação à mulher contemporânea. A artista disse à Agência Brasil sobre a importância de ter sua dentro de uma conferência sobre cultura. “Em geral, é uma arte marginalizada e não reconhecida como cultura. E nós estamos aqui marcando lugar e mostrando que a arte transformista pode ter espaço neste país.”
O pianista de jazz Jonathan Ferr, do Rio de Janeiro, apresentou-se com um quarteto formado apenas por mulheres musicistas do Distrito Federal. Para ele, a conferência é o pontapé para um novo momento para os artistas brasileiros.
“Independentemente do lado político que se esteja, não dá para negar que o Brasil é um dos maiores exportadores de cultura para o mundo. A volta do Ministério da Cultura e, agora, esse grande encontro com as pessoas que fazem cultura em várias partes do Brasil, de vários sotaques diferentes, eu vejo um futuro de caminhos abertos, trilhado pelo Ministério da Cultura. E esse é o pontapé inicial para muita coisa vir a acontecer. O maior desafio é fazer com que a sua arte chegue para o maior número de pessoas possível”, avalia.
A violonista Tatiana Kovalchuk, integrante do quarteto, entende que os participantes estão todos juntos "atrás dessa grande luta, que são a cultura, a educação, que vão, de fato, fazer a diferença para todo mundo.”
De Goiás, o mestre de congado Reginaldo Bernardo trouxe dos terreiros de Catalão, 23 dançarinos que mostraram o sincretismo religioso que teve origem no Brasil, com os escravos negros e a religiosidade católica. “Catalão inteira tem 148 congadas, com mais de 5 mil dançadores. Essa tradição veio de fazendas, de culturas antigas, quando dançadores, os escravos se reuniam para dançar em terreiros. Depois, a Igreja adotou a manifestação e formou essa Congada de Catalão”.
Entre uma discussão e outra, os caminhantes da conferência viraram plateia da apresentação de um grupo de dança folclórica siriri, do Mato Grosso. As saias rodadas das artistas do grupo Siriri elétrico e as várias violas de cocho musicaram o dia dos conferencistas. A dona de uma dessas saias é Karen Amorim, que se apaixonou pela dança, aos 13 anos, na escola e nunca mais parou.
“Agora, a gente veio aqui mostrar a nossa cultura, mostrar a nossa dança, mostrar a nossa viola de coxo”.
Karen não se separa da amiga de dança Alice Tognoli, que gostou de conhecer outras manifestações.
“A gente está vendo várias culturas diferentes, que a gente nem fazia ideia que existia. Muitos tipos de músicas diferentes também. É uma diversidade maravilhosa. Somos um dos grupos de Cuiabá, que também fazem o mesmo trabalho de estar deixando essa cultura cada vez mais viva, porque a gente tem que representar a cultura popular.”
Todos os dias, os conferencistas foram recepcionados por artistas circenses com pernas de pau. Este foi o caso de Cadu Sales, representante da comitiva de Vitória de Santo Antão (PE) e do setor de Design e Moda do estado. Ao chegar à conferência, Cadu e a delegação do estado entoaram a tradicional canção Madeira que Cupim não Rói, de Capiba, ladeados pelos chamados pernaltas.
“O retorno da Conferência de Cultura, após esse hiato grande que se teve, é uma responsabilidade muito grande para todos nós que estávamos participando. Agora, esperamos dar a nossa melhor contribuição possível para a construção desse plano [Nacional de Cultura] sério.”
A conferência abriu espaço para artesanatos, sobretudo de indígenas e afro, e vestimentas típicas do Brasil e até de outros países. Uma forma de divulgar a cultura e ainda gerar renda aos artesãos.
O expositor Gilberto Cruz Fulni Ô, de Águas Belas (PE), trouxe as tradições indígenas em cestarias, colares, brincos, pulseiras e cocás coloridos. “Eu exponho os materiais indígenas para mostrar a cultura, a nossa tradição. Eu trabalho com várias técnicas de artesanato, principalmente o nosso, que é Fulni Ô. Para mim é uma honra estar participando desse evento aqui tão grande”.
Outra indígena era Fernanda Togoe, com o artesanato de seu povo de Barra do Garças (MT). “A gente acha muito boa essa oportunidade de ter vindo aqui, de mostrar as nossas peças, o nosso artesanato, para o pessoal conhecer mais a gente. Eu trouxe colar de miçanga, pulseira e brinco de miçanga, brilho, colar de sementes, além de tucum, morototó, açaí e rapé também e algumas peças de barro. A procura é grande. Muitas pessoas vêm comprar aqui e ajudam a gente.”
Já expositores do Distrito Federal foram convidados a vender alimentação no local.
A agricultora familiar do assentamento agroecológico José Wilker, de Sobradinho (DF), Paula Tavares, comercializou alimentos orgânicos.
“É uma oportunidade única de expor os nossos produtos para que todos levem para seus estados. Tudo é cultura e alimento também pode ser cultura”, define Paula.
Na banca ao lado, Tereza da Silva Ferreira, da Casa dos Mirtilos, vendia geleias, doces e bolos com a fruta silvestre. O ofício vem de gerações passadas da família, por isso, o modo de cozinhar tornou-se uma forma de cultura. “É um processo que a gente aprende no fogão de lenha. Minha mãe fazia geleia na roça com a gente. Então, quando eu fui me dedicar a isso, eu fui lá atrás, no meu interior”, relembrou Tereza.
A 4ª CNC foi a maior conferência cultural já realizada no Brasil. Há mais de 10 anos, o evento de participação popular não ocorria nacionalmente.
A conferência resultou na aprovação de 30 propostas de políticas públicas para basear a construção do próximo Plano Nacional de Cultura, com validade de 10 anos.