A CPI investiga 135 telefonemas entre o então diretor de Logística do Ministério da Saúde e uma diretora da VTCLOG. Dias aceitou pagar à empresa um valor 18 vezes maior que o recomendado pelos técnicos do ministério. Quebra de sigilo telefônico de Roberto Dias mostra relação próxima com empresa investigada pela CPI
A quebra de sigilo telefônico do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde revelou que ele teve contatos muito frequentes com uma empresa investigada pela CPI.
Os registros telefônicos de Roberto Dias, obtidos pela CPI da Covid, mostram 135 telefonemas entre ele e a diretora-executiva da VTCLOG, Andreia Lima, que já foi convocada para depor na comissão.
Roberto Dias já é investigado pela CPI por supostamente pedir propina para fechar contrato para a compra de vacinas da AstraZeneca através de intermediários. E a empresa VTCLOG entrou na mira da comissão por supostamente de ter sido beneficiada por Roberto Dias em um contrato com o Ministério da Saúde para armazenamento e transporte de medicamentos, inclusive vacinas.
Uma reportagem desta segunda-feira (19) do jornal O Globo mostrou que os registros não consideram as chamadas realizadas por aplicativos de mensagens eletrônicas, só pela linha de telefone.
Das 135 chamadas descobertas pela CPI, 129 partiram da linha de telefone celular utilizada pela executiva da VTCLOG. Já Roberto Dias ligou seis vezes para Andreia Lima. Somadas, as ligações alcançaram quatro horas e 19 minutos, e foram de abril de 2020 a maio de 2021.
O histórico de chamadas de Roberto Dias mostra que algumas delas ocorreram em datas próximas aos dias em que a VTCLOG e o ministério trocaram ofícios e debateram valores que a empresa alegava ter direito a receber.
O Jornal Nacional já mostrou detalhes desse contrato. A empresa e o Ministério da Saúde divergiam sobre como deveria ser a forma de cálculo da remuneração da VTCLOG pelo serviço de receber e organizar medicamentos.
Na avaliação dos técnicos do ministério, o valor seria de R$ 1 milhão, mas a empresa defendia que pelo contrato o valor seria de R$ 57 milhões.
Apesar dos questionamentos da consultoria jurídica do ministério, Roberto Dias concordou com uma contraproposta da VTCLOG, que sugeriu uma nova forma de cálculo.
O aditivo para aumentar o pagamento foi assinado por Roberto Dias em maio deste ano: R$ 18 milhões. Sessenta por cento a menos do que a empresa queria inicialmente, mas 18 vezes o valor defendido pela área técnica do ministério.
A CPI da Covid quer saber agora o que Roberto Dias e Andreia Lima discutiam nesses telefonemas, inclusive nas conversas próximas às negociações desse aditivo. Os senadores também querem também analisar outros contratos da VTCLOG com a pasta.
Por isso, um dos sete núcleos temáticos criados pela comissão vai investigar os negócios entre a empresa e o Ministério da Saúde.
A senadora Eliziane Gama será uma das responsáveis por essa investigação.
“Essas informações obtidas nos levarão a pedir a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático da VTCLOG. São informações que nós precisamos aprofundar. Fica para a gente muito claro até o presente momento que o ex-diretor Roberto Dias é uma peça fundamental em torno do assunto VTCLOG, e paira sobre ela, inclusive, denúncias desse pagamento de propina. A CPI está focada nisso, em ampliar de fato essa investigação”, afirmou.
O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues, disse que estão chegando à comissão mais denúncias de pagamento de propina em contratos do Ministério da Saúde.
“Nós temos cada vez mais elementos que apontam que enquanto os brasileiros precisavam de vacina, no Ministério da Saúde se montou um balcão pela propina. Isto tem elementos claros, fortes indícios, no caso da VTCLOG, o favorecimento que essa empresa fez e nos contratos superfaturados que essa empresa tinha. Um esquema de propina que beneficiava agentes do Ministério da Saúde, notadamente o senhor Roberto Ferreira Dias, diretor do Departamento de Logística, e agentes políticos também. Um esquema de propina que se consolidava através de um pagamento mensal de vantagens”, afirmou.
A VTCLOG declarou que repudia todos os fatos imputados que possam macular a sua imagem e reputação, que as acusações são irresponsáveis e que vai adotar medidas judiciais.
Roberto Dias e o Ministério da Saúde não deram retorno ao contato do Jornal Nacional.
Fonte: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/07/19/quebra-de-sigilo-telefonico-de-roberto-dias-revela-contatos-frequentes-com-empresa-investigada-pela-cpi.ghtml