O outono começa dia 20, todo ano é assim, e sempre é notícia. A mesma coisa é a criação de uma liga dos clubes de futebol no Brasil. Todo ano falam dela e a iniciativa vira notícia. A diferença é que o outono chega, mas a Liga...
De novo o assunto está na pauta, após a CBF tomar um puxão de orelhas da Fifa e ser ameaçada de ver seus clubes filiados suspensos de competições internacionais e a seleção fora da Copa. Ajustada a sucessão na presidência, teve início a discussão, com a tão desejada união dos dirigentes em busca de um objetivo comum. Que, num primeiro momento, é aumentar a arrecadação de todos, muito defasada quando comparada com a dos clubes europeus.
O discurso é bonito, a iniciativa é elogiável, o desejo de todos é de que essa liga se efetive. Mas tenho de reconhecer que ainda acho muito distante a conclusão do projeto. A começar pela atual disparidade de arrecadação de clubes que estão na Série A, excluindo, é claro, os valores que cada um recebe por patrocínios próprios. Os de menor torcida finalmente serão beneficiados por cotas maiores das TVs? Os maiores aceitarão abrir mão de verbas que estão em seus orçamentos há anos?
E quando houver eleição e mudarem os dirigentes? Como ficam esses acordos? Claro que haverá questões jurídicas para defender a manutenção da iniciativa, mas, enquanto houver clubes profissionais liderados por dirigentes amadores, esse é um risco que não deixará de existir. A chegada de empresas e empresários interessados nas SAF’s (sociedades anônimas do futebol) pode colaborar nesse projeto, pois a visão deles é empreendedora e voltada para o lucro. Mas há clubes que, ao menos no momento, não planejam essa transformação. Principalmente porque estão bem estruturados administrativa e financeiramente.
A oferta de R$ 1 bilhão por 50% do Atlético-MG chama a atenção, pois o clube tem dívida estimada de R$ 1,3 bilhão e montou um ótimo time com a ajuda de empresários mineiros, torcedores do clube. O Galo quer mais, mas vale? Há quem garanta que o valor das SAF’s, no momento, está acima da média. Seria o momento, então, de aproveitar as ofertas?
Como seria bom falar do futebol dentro das quatro linhas, mas o momento vem mostrando que os estaduais não despertam mais, no torcedor, a mesma atenção. Pior: no último fim de semana, por exemplo, a violência das torcidas, que seguem impunes, e reclamações contra o VAR (árbitro de vídeo) dominaram o noticiário.
Aliás, aí estão outras questões que a Liga de Clubes deverá cuidar: como vai ficar o calendário? Ainda apertado por competições tradicionais, mas não rentáveis? E a legislação que trata da violência em torno do esporte? E a arbitragem não profissional no Brasil?
A pauta é extensa e não será cumprida em pouco tempo. Mas é necessário que, além do pontapé inicial, o jogo continue.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.