As políticas públicas voltadas para mulheres trouxeram inegáveis avanços nas vidas das brasileiras nas últimas décadas. Auxiliado também por progressos na medicina e descobertas sobre a saúde feminina, a expectativa de vida deste público, por exemplo, saltou de 48,3 anos, em 1940, para 80,1, em 2019 (período pré-pandemia).
Outro aspecto essencial foi a inserção da mulher no mercado de trabalho e principalmente a ocupação de cargos de liderança. De acordo com uma pesquisa da consultoria Grant Thornton, o número de mulheres em cargos de chefia no Brasil cresceu de 25% (2019) para 38% (2022).
Apesar da melhora no padrão de vida geral, as pessoas do gênero feminino passaram a enfrentar novos desafios a partir destas novas dinâmicas sociais, principalmente no quesito maternidade. Uma dessas dificuldades afeta as chamadas mulheres da “Geração Sanduíche”, que acabam sendo “mães” de duas gerações distintas.
“A analogia refere-se às pessoas que recebem a pressão de um lado para cuidar dos filhos e do outro para cuidar dos pais idosos. O problema afeta principalmente mulheres, já que mesmo com os avanços, elas ainda cumprem mais esse papel social de cuidadoras do que os homens. Em todo esse contexto acrescenta-se ainda a questão profissional, já que elas também precisam lidar com a pressão diária das demandas do trabalho”, explica Márcia Sena, especialista em qualidade de vida na terceira idade e fundadora e CEO da Senior Concierge, empresa que pratica um modelo de atenção integrada para dar suporte aos idosos.
Efeitos psicológicos na Geração Sanduíche
Márcia pontua que a Geração Sanduíche (também conhecida por outros termos como Geração do Meio ou Geração Pivô) representa principalmente mulheres que estão na faixa etária de 35 a 60 anos (com uma predominância maior entre 40 e 55 anos). Nessas fases da vida, parte das pessoas já possuem filhos pelo menos na fase da adolescência e pais idosos que ultrapassam os 70 anos.
A especialista lembra que há vários recortes específicos para as populações que integram essa geração, incluindo questões étnicas e econômicas. Apesar disso, ela salienta que de maneira geral essas mulheres sofrem com problemas como insônia, irritabilidade, estresse, baixa imunidade, obesidade e ansiedade.
“Essas questões acabam surgindo porque elas sentem a pressão para que os filhos tenham uma boa educação, sejam bem-sucedidos, estejam protegidos dos riscos do mundo etc. Em relação ao cuidado com os pais, que em alguns casos têm problemas de saúde debilitantes como Alzheimer, essas mulheres veem uma necessidade de retribuir o cuidado que elas tiveram na juventude. Essa união de tensões acaba gerando um sufocamento que pode levar a doenças como depressão também”.
Exemplificando outros recortes, no caso de mães solo, por exemplo, Sena defende que a situação é ainda mais complexa. Ela afirma que as dificuldades da Geração Sanduíche podem ser aliviadas quando as mulheres possuem parceiros que dividem as atribuições, o que não acontece com as mães solo.
Além de lidar com o desafio cotidiano de cuidar dos filhos, que envolve o levar e buscar na escola, preparar a alimentação e promover atividades recreativas, as mães solos acabam tendo que dividir a preocupação com a situação dos pais idosos.
“A presença de um parceiro ou parceira não funciona apenas como um importante fator na distribuição de tarefas, mas também cumpre um papel essencial na questão afetiva e emocional. Por causa disso, ao passar por toda essa pressão de todos os lados, as mães solos ainda podem sofrer com baixa autoestima e encontrar mais dificuldade para achar uma pessoa para se relacionar, caso elas estejam procurando”.
Dicas para as “ensanduichadas”
Sena relata que é muito comum que as “ensanduichadas” questionem a si próprias se estão realizando um bom trabalho como mães, se não estão muito ausentes na relação com os pais idosos e se são boas o suficiente no trabalho. Esses pensamentos destrutivos fazem parte da “montanha russa” de emoções que elas passam durante essa fase da vida.
“Quando algo não dá muito certo e acontece um caso de doença, por exemplo, é comum que as mulheres pensem que não fizeram o suficiente para evitar aquela situação. No contexto de fragilidade emocional, pensamentos como esses a fazem se sentir para baixo e incapazes de lidar com todas as demandas”.
A especialista ressalta, porém, que é essencial que essas mulheres não se sintam insuficientes, já que na verdade elas são seres humanos que pegaram muitas responsabilidades. Outra peça fundamental é pedir ajuda, já que muitas das coisas que passam na nossa cabeça são interpretações equivocadas da realidade e podem ser desfeitas com a ajuda de um profissional.
Ainda sobre isso, Márcia Sena elenca 7 dicas para mulheres que estão sofrendo na Geração Sanduíche:
Sobre Márcia Sena
É fundadora e CEO da Senior Concierge e especialista em qualidade de vida na terceira idade. Tem MBA em Administração na Marquette University (EUA) e experiência em várias áreas da indústria farmacêutica.
Criou a Senior Concierge a partir de uma experiência pessoal de dificuldade de conciliar seu trabalho como executiva e cuidar dos pais que estão envelhecendo. Se especializou nas necessidades e desafios da terceira idade e desenvolveu serviços com foco na manutenção da autonomia dos idosos no seu local de convívio, oferecendo resolução de problemas de mobilidade, bem-estar, tarefas domésticas do dia a dia e segurança.
Sobre a Senior Concierge
Uma empresa com um novo jeito de dar suporte aos 60+, com um modelo de atenção integrada e centrada nas reais necessidades dos idosos. Uma resposta dos novos tempos para um modelo que se esgotou, que é o modelo curativo baseado nas doenças, praticado por outras empresas de home care. Com a proposta de garantir um envelhecimento prazeroso, proporcionando qualidade de vida, bem-estar e segurança aos familiares.