A mastite é uma doença que acomete uma alta proporção de vacas leiteiras em todo o mundo, se tornando um desafio para todos os profissionais que atuam na área.
Diferente de algumas doenças, são vários os microrganismos (na maioria das vezes bactérias) que são capazes de infectar o úbere e – assim que isso ocorre – eles se multiplicam e produzem substâncias prejudiciais que normalmente resultam em processos inflamatórios; redução na produção de leite e alteração na qualidade do leite.
Como são vários os patógenos que podem ocasionar a mastite, o controle não é tão simples e as perdas econômicas podem ser consideráveis. É por esses e outros variados motivos que o produtor deve se proteger contra esse adversário, afastando assim, problemas desnecessários.
Alterações visíveis no leite e nos tetos: características típicas da mastite clínica
Para iniciar o tema, é interessante pontuar que a mastite clínica normalmente se caracteriza por anormalidades perceptíveis a olho nu tanto no leite quanto nos quartos mamários, estes, que podem inchar, ficar vermelhos e quentes.
Além da palpação da região do úbere, o teste da caneca é uma técnica prática, fácil e rápida que deve ser usada no dia a dia da fazenda, já que detecta alterações como presença de grumos, pus e mudança na cor no leite. Também podem ocorrer outros sintomas na vaca como:
Além disso, pesquisas apontam que vacas diagnosticadas com mastite clínica apresentaram intervalos mais longos entre os partos, maiores perdas gestacionais e diminuição dopercentual de gordura do leite em comparação com vacas saudáveis. De acordo com os sintomas, o grau da mastite pode ser classificado em leve, moderado e grave.
E como controlar e prevenir a mastite clínica?
Prevenir novos casos e eliminar os existentes é uma das melhores saídas para fazer com que a mastite passe longe da fazenda de produção de leite.
Nessa linha, uma das ferramentas que contribui para controlar a doença é a cultura microbiológica do leite, que tem como objetivo principal a identificação e isolamento dos microrganismos presentes no rebanho, sendo considerada como método padrão para o diagnóstico dos agentes causadores de mastite.
A identificação do agente causador da mastite é útil para recomendações de tratamento e/ou descarte da vaca e, principalmente, para a adoção e monitoramento de medidas de controle. Reconhecer com clareza o inimigo com o qual estamos lidando auxilia em protocolos mais eficientes, reduz o uso de antibióticos e o descarte de leite, fatores que impactam diretamente no bolso do produtor e gerenciamento da doença.
Na mastite clínica, além dos fatores de risco, como características do animal, ambiente e procedimentos de manejo, é de extrema importância a avaliação e manutenção constante do equipamento de ordenha e, como já citamos acima neste artigo, do reconhecimento dos patógenos causadores das mastites por meio da cultura na fazenda.
Outro ponto a ser levado em consideração é a higiene no momento da ordenha. Ela consiste nas etapas de limpeza e desinfecção dos tetos com pré-dipping, exame dos primeiros jatos de leite antes da ordenha, secagem dos tetos com toalhas descartáveis, início da ordenha propriamente dita e manejo da vaca pós ordenha, utilizando pós-dipping. Este último, é eficaz tanto para combater microrganismos da mastite contagiosa, através da desinfecção dos tetos, quanto da mastite ambiental, evitando a entrada de microrganismos provenientes do ambiente.
Por isso, é importante que o produtor de leite tenha a real consciência da importância dessas ações que devem ser seguidas para, assim, também treinar os seus funcionários para este momento.
Ainda abordando o tema prevenção, uma outra medida é realizar o manejo correto na secagem das vacas, já que o início e final deste período são os de maior risco para que as infecções intramamárias se instalem já que o úbere está mais suscetível. O controle de mastite no período seco tem por finalidade diminuir o número de mamas doentes na próxima lactação, eliminar infecções intramamárias existentes e impedir novas infecções durante o período seco.
Resumindo, prevenir sempre é o melhor remédio! Vale sempre a equipe se atualizar sobre o tema e contar ferramentas que ajudem no dia a dia da leiteria. Além disso, manter o rebanho saudável também contribui para o bem-estar animal, tema de extrema relevância para a produção animal no presente e no futuro.
O que lemos para escrever esse artigo:
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Autoria do artigo:
Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela UNESP de Botucatu e especialista em Gestão da Produção pela Ufscar.