Somente de janeiro a março deste ano, o Brasil registrou a média diária de 82,44 amputações de membros inferiores, atingindo média mensal de 2.473 procedimentos. O índice alarmante é o maior dos últimos 10 anos. Os dados são de levantamento inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), com base em dados do Ministério da Saúde.
Os números de amputações já aumentaram a partir do início da pandemia em 2020, com média diária de 75,64, passando para 79,19 em 2021. Os dados foram resultado do menor acesso de pessoas às unidades de saúde e, portanto, à falta de continuidade de tratamento de doenças crônicas como a diabetes, uma das principais causas de amputação. Sem o tratamento adequado dessa doença é mais fácil uma ferida infeccionar, gangrenar e levar a necessidade de retirada do membro.
O diabetes é uma condição crônica que evolui com complicações classificadas em micro e macrovasculares. As microvasculares acometem as pequenas artérias e principalmente rins, nervos e retina. As complicações macrovasculares são o infarto, derrame e a doença vascular periférica por oclusão das artérias que irrigam os vasos que trazem o sangue para os pés, mãos e dedos.
Segundo a endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, Dra. Denise Iezzi, a amputação é resultado das duas complicações. “O paciente possui problema macrovascular e com isso a obstrução arterial que impede a chegada adequada de sangue na perna ou no pé. Em paralelo, possui a doença microvascular do nervo que faz com que não consiga ter uma boa pisada, uma boa sensibilidade, e acabe batendo mais facilmente e se machucando”, explica. A ferida no pé diabético ou um calo espontâneo que se abre, faz com que haja uma porta de entrada para infecções que se ascendem em somatório a uma má vascularização.
Além disso, existem outros fatores cruciais para o cenário do aumento de amputações. A endocrinologista Denise Iezzi relata que dados preliminares mostram que o surgimento da covid cursa com o aparecimento de novos casos de diabetes, e os pacientes que já tinham a doença não só apresentaram um curso pior da covid, com pior prognóstico e uma maior incidência, como a piora do controle de glicemia. Isso resultou no aumento do número de diabetes não controlados no país.
Portanto, a explicação para o aumento do número de amputações é bastante clara para a especialista. “Houve uma progressão com a piora do controle glicêmico, o aumento do número de diabéticos, e também com a pandemia, a não ida aos retornos médicos de doenças crônicas, tanto micro como macro vasculares”, aponta.