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09/08/2021 às 18h51min - Atualizada em 10/08/2021 às 00h00min

Veja como as mudanças climáticas podem impactar a produção de alimentos no Brasil

Maior probabilidade de eventos climáticos extremos dificulta o planejamento dos plantios e diminui a produtividade das lavouras, apontam especialistas entrevistados pelo G1.

G1 - Economia
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Maior probabilidade de eventos climáticos extremos dificulta o planejamento dos plantios e diminui a produtividade das lavouras, apontam especialistas entrevistados pelo G1. Maior probabilidade de eventos climáticos extremos dificultam o planejamento dos plantios e diminuem a produtividade das lavouras, apontam especialistas entrevistados pelo G1.
Codau/Divulgação
A intensificação do aquecimento global pode trazer graves prejuízos para a agricultura brasileira, que atualmente já enfrenta um clima adverso para produzir.
Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira (9) concluiu que a temperatura global pode subir de 1,5°C a 2°C neste século, caso não haja uma forte redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, o documento do IPCC, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), afirma que os seres humanos já são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta.
Esse cenário aumentou a chance de eventos climáticos extremos desde 1950, incluindo a frequência da ocorrência de ondas de calor e secas em escala global, o que, para especialistas consultados pelo G1, podem trazer, ao menos, 2 impactos para a produção de alimentos no Brasil:
Redução da produtividade: o clima é responsável por 30% do desempenho da produção de alimentos. Períodos prolongados de seca podem prejudicar o desenvolvimento das plantas, enchimento dos grãos, qualidade das pastagens, entre outros;
Dificuldade de planejamento: agricultores e pecuaristas organizam a produção a partir da sazonalidade climática, mas eventos extremos trazem imprevisibilidade.
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Seca e produção
Algumas das projeções do relatório do IPCC para a América do Sul indicam a possibilidade de um aumento das secas no Nordeste brasileiro e em partes da Amazônia e do Centro-Oeste do país, com consequências para a agricultura.
Na prática, a ausência de chuvas durante longos períodos dificulta o desenvolvimento das plantações, como o enchimento de grãos e crescimento de frutos, além de reduzir a qualidade das pastagens para a alimentação animal.
Culturas como soja, milho, feijão, café e laranja enfrentam problemas deste tipo por causa de estiagem, desde o ano passado.
Projeção da colheita de milho cai com seca e atraso no plantio
As altas temperaturas também podem causar a morte de animais e aborto de porcas e pintinhos, informa Eduardo Assad, pesquisador e especialista em mudanças climáticas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Informática.
"Cerca de 30% da produtividade dos alimentos é explicada pela variação climática. Os outros 70% são explicados por insumos, fertilizantes, genética, práticas agrícolas. Ou seja, quando você tem um problema de clima, a sua produtividade cai, não importa o quanto você investiu em tecnologia", diz Rafael Barbieri, economista sênior do World Resource Institute (WRI) Brasil.
Ele afirma que, com redução na produção, há o risco ainda de aumento dos preços dos alimentos. Segundo o economista, os eventos climáticos extremos são responsáveis por 25% a 35% das oscilações de preços agrícolas.
Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), diz que os períodos de seca no Brasil já aumentaram somente com o desmatamento, e que a expectativa de crescimento de eventos climáticos extremos agrava ainda mais o cenário.
"Na região do Xingu, onde tem muito plantio para soja, o produtor sabe que as secas estão ficando cada vez mais intensas, o período chuvoso já encurtou duas semanas", afirma.
Imprevisibilidade
Moutinho explica que o aumento da temperatura global intensifica e torna mais frequente eventos climáticos extremos.
"Esses eventos sempre aconteceram, mas, agora, como a terra está quente, mais reativa, eles ficam mais extremos. No caso do Brasil, por exemplo, estamos vivendo agora o La Niña, que traz muita seca para a região oeste da Amazônia, para o Pantanal, leste e oeste do Planalto Central", explica Moutinho.
O aumento dessa instabilidade, por sua vez, dificulta a organização dos produtores, que, apesar de já trabalharem com os riscos climáticos, planejam o plantio, colheita, criações de animais com base uma determinada sazonalidade.
"O clima é o fator menos controlável de uma produção. A gente já sabe que existe um risco natural e inerente a ele. Mas se a gente muda o clima, a gente perde toda a capacidade de planejar a produção", diz Barbieri.
Ele explica que a mudança climática pode deslocar a sazonalidade, aumentando os períodos de seca e, nos períodos de chuva, provocando chuvas mais fortes.
"Perder a perspectiva de sazonalidade climática é imputar um risco que a economia brasileira talvez não seja capaz de pagar", acrescenta.
Para ele, os produtores já estão passando por instabilidades e que um dos indicativos disso é o aumento visto nas contratações de seguro rural, um financiamento que protege o agricultor de perdas por causa do clima.
Em 2020, a área segurada no Brasil alcançou o recorde de 13,7 milhões, um aumento de aproximadamente 98% em relação ao ano anterior.
Emissões de CO2 na agropecuária
A agropecuária é considerada uma das grandes fontes de emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Bois são emissores do gás carbônico porque, após comerem o capim, degradam a matéria orgânica dentro do estômago e acabam gerando o metano, que será liberado na atmosfera pelo seu arroto.
Um exemplo destas emissões, na prática, é o município de São Félix do Xingu (PA), que tem o maior rebanho bovino do país e é a cidade com a maior taxa de emissão de CO2, à frente inclusive de São Paulo, segundo dados do Observatório do Clima.
Desde 2010, o governo brasileiro tem um plano para reduzir as emissões a partir de técnicas de produção voltadas para a sustentabilidade, como o sistema de plantio direto, reflorestamento e tratamento de dejetos animais.
Este programa é chamado de Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), coordenado pelo Ministério da Agricultura, e que teve a sua primeira etapa finalizada em 2020. Com as medidas, o governo afirma ter alcançado 115% da meta, com uma mitigação equivalente a 170 milhões de toneladas de gás carbônico.
O próximo plano, que irá vigorar até 2030, deverá ser apresentado até outubro deste ano.
Para Assad, as perdas de safras por causa do aquecimento global podem ser evitadas com as tecnologias implementadas pelo plano ABC.
"Os produtores no Brasil tem todas as soluções que permitem mitigar o efeito desse aquecimento, reduzir a temperatura, manter a água no solo, sombrear os pastos, aumentar a produtividade. Todas essas tecnologias existem e são financiadas há mais de 10 anos, a chamada de agricultura de baixa emissão de carbono", explica.
O pesquisador acredita que o agronegócio pode ajudar a combater o aquecimento global se praticar três pilares:
Não desmatar - o pesquisador afirma que o Brasil não têm necessidade disso para aumentar a produtividade das lavouras.
Plantar árvores - não apenas ajudariam ao meio ambiente, como seriam benéficas em proteger o plantio de geadas e ondas de calor;
Implementação de sistemas de produção mais equilibrados, que retiram o CO² da atmosfera.
VÍDEOS: tudo sobre o agronegócio

Fonte: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2021/08/09/veja-como-as-mudancas-climaticas-podem-impactar-a-producao-de-alimentos-no-brasil.ghtml
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