Uma pesquisa científica recente da Fudan University, de Shanghai, na China, revelou que as mulheres submetidas a cirurgia bariátrica respondem melhor ao tratamento que os homens no tocante à redução da inflamação crônica, uma condição comum entre pessoas obesas e muito perigosa para a saúde.
O estudo foi realizado para investigar, entre pacientes que passaram por cirurgia bariátrica, as mudanças na proporção de neutrófilos para linfócitos (NLR) e os níveis de proteína C-reativa (PCR) - ambos indicadores de inflamação no organismo - e comparou os resultados de pacientes do sexo masculino e feminino.
É bem conhecida no ramo da saúde a relação intrínseca entre obesidade e inflamação crônica.
A inflamação é uma resposta do organismo àquilo que ele interpreta como uma ameaça, que pode ser um vírus, fungo, bactéria, hábitos de vida não saudável, como má alimentação e pouco sono, ou alterações no corpo devido ao excesso de peso.
Apesar de ser silenciosa e quase não apresentar sintomas no início, o quadro de inflamação crônica favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, câncer, síndrome metabólica, diabetes, depressão e doenças neurológicas, como o Alzheimer.
De acordo com o artigo “Impacto da cirurgia bariátrica no estado inflamatório baseado no valor da PCR”, 70 a 80% dos pacientes obesos apresentam remodelamento do tecido adiposo, tanto em níveis estruturais com em funcionais, o que causa uma reação inflamatória crônica denominada de lipoinflamação, com produção de leptina e aumento do estresse oxidativo.
Mas por que a obesidade provoca inflamação crônica? A disfunção pode ser causada pela resistência à ação da insulina ou outras desordens associadas à obesidade, como a hiperlipidemia e síndrome metabólica.
Em um organismo obeso, há uma alta produção de marcadores inflamatórios, estimulados pelo fígado, pelas células imunes, pelas células adiposas ou pelo próprio tecido adiposo do corpo humano.
Nesse contexto, a pesquisa da Fudan University acompanhou a redução dos quadros de inflamação nos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, indicados pela proporção de neutrófilos para linfócitos (NLR), e notou que as mulheres obtiveram melhores resultados após o procedimento.
Além disso, a taxa de mortalidade após 30 dias do procedimento a taxa de mortalidade geral foram significativamente menores entre as mulheres. Mas por quê?
Os autores não descobriram bem o motivo dessa diferença. Porém, é provável que se deva ao fato de a distribuição do tecido adiposo ser diferente nas mulheres e nos homens (as mulheres acumulam mais gordura na região subcutânea, enquanto os homens acumulam mais na região visceral).
E alguns estudos, citados pelo artigo, relatam que a cirurgia bariátrica e outras estratégias de perda de peso geram maior perda de tecido adiposo subcutâneo que visceral.
Outra possibilidade é a influência dos hormônios sexuais. De qualquer forma, a pesquisa mostrou que pacientes do sexo feminino podem se beneficiar mais da cirurgia bariátrica no tratamento da inflamação subclínica que os homens.
Apesar disso, os outros objetivos do procedimento, como perda de peso, diminuição da pressão arterial e melhora da função hepática, foram observados tanto em homens quanto mulheres.
Por isso, a cirurgia bariátrica continua sendo o tratamento mais indicado para casos graves de obesidade tanto entre homens quanto mulheres.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), 70% dos pacientes que passaram por cirurgia bariátrica no Brasil em 2017 foram mulheres.
Contraditoriamente, o índice de obesidade no país é similar entre os homens, de acordo com relatório VIGITEL do Ministério da Saúde do mesmo ano. Nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, a frequência de adultos obesos foi de 18,9%, sem diferença entre os sexos.
Já em 2021, o índice de obesidade cresceu para 22,35% no Brasil, sendo que os homens (59,9%) se enquadraram um pouco mais nessa condição que as mulheres (55%).
De acordo com o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho, membro titular da SBCBM, o motivo para a procura predominantemente feminina pela cirurgia é o zelo maior das mulheres com a própria saúde:
“O que nós percebemos, no dia a dia, é que as mulheres, além de se preocuparem mais com sua saúde, também são mais corajosas na hora de fazer a cirurgia”, comentou o cirurgião, que realizou mais de 4 mil cirurgias bariátricas.
No entanto, os problemas causados pela obesidade são quase os mesmos em homens e mulheres, com riscos à saúde de ambos. A obesidade é uma doença crônica que serve de gatilho para outras disfunções, como:
Por causa disso, a obesidade mórbida pode cortar a expectativa de vida de uma pessoa em até 8 anos e causar décadas de problemas de saúde.
Como é um tratamento muito agressivo e arriscado, a cirurgia bariátrica só é liberada pelos médicos se o paciente atender a uma série de critérios e ter tentado antes, sem sucesso, outras alternativas não invasivas de tratamento. Os principais requisitos são:
Se a pessoa tiver IMC de 35 a 40 é preciso apresentar outras doenças decorrentes da obesidade, como diabetes e hipertensão, para ser elegível ao procedimento.
Pacientes com índice igual ou maior que 40 podem passar pela cirurgia mesmo sem a presença de comorbidades, desde que não tenham apresentado evolução com tratamentos anteriores.
Já os pacientes com IMC superior a 50 kg/m podem se submeter ao procedimento sem a presença de comorbidades e mesmo se não tiverem tentado outros métodos de emagrecimento.
O procedimento cirúrgico pode trazer algumas complicações para o paciente, como:
Para reduzir os riscos mencionados acima, é fundamental que o paciente tome alguns cuidados antes e depois da cirurgia bariátrica.
Antes:
Depois: