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19/04/2023 às 16h00min - Atualizada em 20/04/2023 às 00h00min

Alimentação, nutrição e saúde das comunidades indígenas: desafios e ações

Nutricionistas falam sobre a insegurança alimentar enfrentados pela comunidade indígena

SALA DA NOTÍCIA Kamila Aleixo
www.crn3.org.br
ASCOM CRN-3


Nos últimos meses, a temática sobre a alimentação e saúde nutricional dos povos indígenas no Brasil ficou evidente e escancarou a vulnerabilidade e a necessidade de atenção extrema. A dieta tradicional dessas comunidades, normalmente é baseada em alimentos naturais, coletados na floresta, como frutas, raízes, peixes e animais silvestres. No entanto, dentro de várias questões, o maior problema enfrentado por essas comunidades indígenas é a perda da biodiversidade e a contaminação de seus recursos naturais, o que afeta diretamente a qualidade e a segurança dos alimentos consumidos. Consequência deste cenário: muitas comunidades sofrem com problemas relacionados à alimentação.

Segundo a nutricionista Rita de Cássia Bertolo, conselheira do CRN-3, outras questões devem ser observadas pelos nutricionistas e técnicos em nutrição e dietética quanto as dificuldades no atendimento às comunidades indígenas. “Na atuação dentro das comunidades, os profissionais nutricionistas devem estar preparados para algumas dificuldades enfrentadas. Como exemplo, temos a comunicação, sendo necessário a presença de intérprete para que o profissional possa estabelecer um bom diálogo e conhecer a realidade dessa comunidade/indivíduos e assim orientá-los. Mas, além dessa dificuldade, o nutricionista precisa conhecer os costumes e tradições alimentares e de saúde da comunidade com a qual ele vai atuar, no sentido de preservá-las. Outra preocupação é com o estado nutricional dessa população, pois coexistem prevalências elevadas de déficits nutricionais e de excesso de peso”, pontua Rita.

Para a professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e pesquisadora em nutrição e saúde dos povos indígenas, Verônica Gronau Luz, “o trabalho dos nutricionistas junto aos povos indígenas é muito importante, necessário e extremamente decisivo, eu diria.  É claro que a atuação do nutricionista junto aos povos indígenas também se dá de acordo com as diferentes demandas que as comunidades trazem, mas é de suma importância ter esse atendimento”, explica a professora.

Verônica atua dentro das comunidades indígenas Kaiowá Guarani e Terena, na região sul do Mato Grosso do Sul. Nessas comunidades estão presentes oito povos numericamente expressivos, mas existem outros mais. Dentro da realidade dessas comunidades, a professora explica que a maioria dos atendimentos dos nutricionistas são sempre para crianças menores de cinco anos e mulheres, incluindo as gestantes. “Existem outros programas feitos para homens e idosos, mas o foco principal do atendimento dos nutricionistas é realizado junto as crianças e mulheres.”

Devido a pesquisa que realiza junto aos povos indígenas, a professora Verônica está por dentro da dura realidade existente dentro nessas comunidades. “A insegurança alimentar aqui é muito presente. Ao longo dos anos, isso foi se tornando um problema, não só aqui dos Kaiowá Guarani, mas de toda população brasileira indígena. Nós temos e nos baseamos no único inquérito nacional de saúde e nutrição de povos indígenas realizado em 2009. Essa pesquisa foi muito importante porque é a única que os profissionais nutricionistas têm a nível nacional e que mostra um perfil de saúde e nutrição de mulheres e crianças indígenas no Brasil”, acrescenta Verônica.

A conselheira Rita salienta que “outro fato  importante que tem interferido nas práticas alimentares tradicionais, que se configura como um grande desafio para os profissionais que atuam com essas comunidades e, também, para as políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, é a proximidade com os povos não indígenas. Um exemplo que acontece com os indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru de Dourados, em Mato Grosso do Sul, que, com a demarcação das terras, a reserva indígena ficou próxima à área urbana, e essa proximidade afetou os hábitos alimentares, com aumento do consumo de alimentos como açúcar, óleo, pão, bolachas, enlatados, refrigerantes, embutidos e outros alimentos ultraprocessados. As mudanças na cultura alimentar em detrimento a hábitos alimentares não saudáveis, têm aumentado os problemas de saúde dessa população, como a obesidade e doenças crônicas”, explica.
 
Para concluir, a professora Verônica destaca que o trabalho do nutricionista vai muito além da saúde e alimentação dentro dessas comunidades indígenas. “Para atuar dentro dos povos indígenas é preciso entender também que sem o território não existe alimento, não existe saúde, não existe nada para os povos indígenas. A terra é tudo que eles têm. Então para além da nutrição é preciso entender também sobre direito territorial, direito humano, direito a alimentação e nutrição adequados, direito à água, direito as diversas coisas primordiais. Acredito muito na nutrição e acredito que o profissional nutricionista tem que se abrir pra saber muito mais além do que de alimentação e nutrição. Entender que é necessário saber de muitas coisas para conseguir compreender a realidade daquela comunidade e todos os determinantes em saúde que estão ligados àquela população.”, ressalta.

“Para sensibilizar os profissionais inscritos, o CRN-3 têm buscado incentivar e fomentar ações para que os nutricionistas e técnicos em nutrição e dietética possam ouvir as comunidades indígenas. Exemplo disso, o  Conselho de Nutricionistas realizou em 2019 um evento que abordou a Segurança alimentar e nutricional de povos indígenas. Por meio da Comissão Transitória de Políticas Públicas, o CRN-3 tem monitorado as pautas políticas que podem oferecer riscos e oportunidades à categoria profissional e à sociedade, no campo da alimentação e nutrição. Outra ação importante adotada pelo CRN-3, que contempla toda a comunidade em geral, inclusive os povos indígenas, foi iniciada no ano de 2022, em busca de implementar a Agenda 2030 no contexto profissional da categoria, no sentido de sensibilizar profissionais a adotarem práticas que contribuam com as metas propostas pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.”, explica a conselheira Rita.

Em resumo, a alimentação, nutrição e saúde são questões de grande importância para as comunidades indígenas. É fundamental que as políticas públicas e programas de conscientização e educação estejam alinhados com as necessidades e tradições dessas comunidades, garantindo assim que elas tenham acesso a uma dieta nutritiva e equilibrada, contribuindo para sua saúde e bem-estar.
 
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