Doenças incapacitantes são, além de uma questão de bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos, um problema econômico. Com o glaucoma, não é diferente. Maior causa de cegueira irreversível no mundo, a doença, que atinge 2,5 milhões de brasileiros, acarreta um significativo custo ao sistema de saúde. Por se tratar de um mal silencioso, muitas vezes, a doença, quando detectada, já atingiu um estágio em que não há mais possibilidade de reverter o dano ao nervo óptico. Cabe lembrar que um estudo conduzido por pesquisadores ligados à Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), com 1.636 indivíduos, mostrou que 90% desconheciam que já apresentavam traços da doença.
No Brasil, pouco se analisa o fator econômico associado à doença. De maneira geral, sabe -se apenas que, em 2022, os gastos do SUS com consultas oftalmológicas beirou os R$ 130 milhões. Nos Estados Unidos, porém, pesquisas apontam que US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 12,5 bilhões) do orçamento de saúde são destinados ao tratamento do glaucoma, incluindo US$ 1,9 bilhão (aproximadamente R$ 10 bilhões) associados a despesas médicas diretas. O gasto em benefícios da Previdência Social, perdas de receita de imposto de renda e despesas com saúde relacionadas ao glaucoma ultrapassa R$ 1,5 bilhão.
Os gastos aumentam conforme a doença avança, segundo estimativas divulgadas por economistas também nos Estados Unidos. No tratamento de pacientes com glaucoma grave, eles observaram que os custos diretos anuais médios são quatro vezes maiores do que os de pessoas com hipertensão ocular ou nos estágios iniciais do glaucoma.A explicação é simples. A progressão da doença e a consequente perda da visão afetam a vida do indivíduo como um todo. Um exemplo representativo é a questão das quedas. Um estudo da Escola de Medicina da Washington University indica que pessoas com glaucoma têm quase três vezes mais chances de levar um tombo.
Quedas, segundo o Ministério da Saúde, são a terceira causa de mortalidade entre brasileiros com mais de 65 anos. De 2010 a 2020, segundo o DataSUS, foram registradas 1.746.097 autorizações de internação hospitalar por quedas de idosos, com permanência média de 5,2 a 7,5 dias. O custo total chegou a R$ 2.315.395.702,75.
"O glaucoma não tem cura, mas pode ser tratado com colírios e laser. Isso, na prática, significa diminuir os gastos com a doença e permitir que os indivíduos permaneçam produtivos. O Brasil tem uma das maiores redes de atendimento público de saúde, que possibilita fazer pelo menos uma consulta com oftalmologista por ano e receber colírio gratuitamente. Portanto, vale a máxima: prevenir é o melhor remédio", diz o presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, Roberto Galvão Filho.