Campinas, 11 de abril de 2023 - O avanço no uso de tecnologias digitais é apontado como um dos fatores determinantes para que a agricultura brasileira mantenha sua capacidade produtiva de maneira sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental e social. E a participação de pequenos e médios produtores rurais nesse processo de transformação no campo é fundamental. Com esse foco, foi inaugurado hoje, 11/04, o Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (CCD-AD/SemeAr), uma iniciativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que tem o CPQD como uma das instituições associadas.
Aprovado no final de 2022, em edital da FAPESP para constituição de centros virtuais orientados a problemas específicos e com impacto social e econômico, o projeto contará com investimento total de R$ 25 milhões ao longo dos próximos cinco anos. Sua missão será atuar na pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias emergentes visando a inclusão de pequenos e médios produtores rurais no processo de transformação digital, de modo a ampliar a competitividade e serviços agropecuários brasileiros.
“As tecnologias e soluções propostas neste projeto têm uma importância crucial para o país. Temos a agricultura tropical mais competitiva em termos globais, mas a conectividade na área rural é muito baixa e o uso de tecnologias digitais ainda deixa muito a desejar, em especial para pequenos e médios produtores”, afirma Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp. “O desenvolvimento de soluções de comunicação e de aplicativos relevantes para os diversos tipos de cultivo e de criação podem aproximar esses produtores do mercado e viabilizar ferramentas capazes de aumentar a produtividade e a renda desses produtores”, acrescenta.
Entre as ações previstas dentro dessa iniciativa, está a implantação de dez Distritos Agro Tecnológicos (DATs), distribuídos pelo estado de São Paulo e em outras regiões do país, considerando a diversidade produtiva e de recursos naturais. Selecionados com base em indicadores socioeconômicos, os DATs servirão de base para a identificação dos gargalos de conectividade e o mapeamento das soluções digitais demandadas pelos produtores rurais, bem como das instituições públicas ou privadas, empresas e startups capazes de suprir as necessidades naquele arranjo local. Como pilotos de fazenda inteligente, os DATs também permitirão investigar e validar tecnologias habilitadoras para o desenvolvimento de soluções digitais priorizadas para cada realidade.
Para Silvia Masshurá, pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital e responsável pela coordenação desse projeto, a expectativa é, por meio dos DATs, promover a conexão com múltiplos atores das cadeias produtivas e possibilitar novos modelos de negócios, de modo a dar escala às tecnologias e reduzir custos de transação. “O objetivo é estimular a integração de tecnologias digitais nos processos produtivos rurais de uma forma efetiva e simples, que atenda às necessidades reais dos produtores, gerando impactos socioeconômicos no curto e médio prazo, além de oferecer capacitação tecnológica e o compartilhamento de conhecimento e de práticas, visando acelerar a adoção de tecnologias digitais”, ressalta.
Entre os dez DATs previstos pelo CCD-AD, dois já foram implementados em projeto liderado pelo CPQD e Embrapa, dentro da iniciativa SemeAr, criada para estruturar a governança e a sustentação econômica desse modelo de operação para promoção da agricultura digital. Os primeiros pilotos, que servem como referência para o novo projeto, foram estabelecidos nos municípios paulistas de Caconde, região caracterizada pela presença de pequenos e médios cafeicultores, e de São Miguel Arcanjo, que tem a produção de uva como atividade de destaque.
A implantação desses DATs contemplou aspectos como conectividade - um dos principais desafios para a adoção de inovações em agricultura digital -, oferta de serviços e capacitação. E envolveu a participação de atores locais, como produtores rurais, cooperativas, associações, sindicatos, governos municipais, institutos de pesquisa, assistência técnica e extensão rural, empresas, prestadores de serviços e startups. O intuito é validar um modelo viável, capaz de ser replicado em outras localidades do Brasil, gerando subsídios para políticas públicas e para outras iniciativas na temática da agricultura digital.
“O projeto CCD-AD/SemeAr prevê a oferta de conectividade e a implantação de soluções digitais em regiões diferentes do país, com necessidades e desafios distintos. Assim, nos locais onde já existe infraestrutura de conectividade, a ideia é aproveitar o que está disponível. Mas a estratégia do projeto também prevê a escolha de locais que apresentam desafios de conectividade que irão demandar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras. E isso poderá ser feito utilizando as competências do CPQD e de parceiros na área de tecnologias de conectividade”, explica Alberto Paradisi, diretor do CPQD e um dos vice-diretores do CCD-AD/SemeAr.
Paradisi observa que a diversidade de atores é um fator importante para o sucesso do projeto, como vem mostrando a experiência no DAT de São Miguel Arcanjo, que atraiu empresas e fornecedores de soluções e de serviços distintos - entre eles, um provedor local de internet, fornecedores de equipamentos e de link de satélite e várias startups. “É uma experiência muito interessante, que mostra a importância de atrair diversos atores”, afirma.
A Embrapa Agricultura Digital, localizada em Campinas, é a instituição sede do CCD-AD/SemeAr. O projeto tem ainda como instituições associadas, além do CPQD, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA).