No Brasil, a cada 19 horas, uma pessoa LGBTQIAP+ é assassinada ou comete suicídio. Desde 2001, quando somente então passou a existir um levantamento anual de números de LGBTQIAP+ mortos no país, os dados da violência só aumentam. Realizado pela organização independente Grupo Gay da Bahia, em 2017, o levantamento apontou um recorde: 445 LGBTQs mortos naquele ano, sendo 357 mortes e 58 suicídios. Os números colocam o Brasil como o país que mais mata pessoas queer, desde 2008. O tema ganha uma série em produção: Amor – Raiz do Òdio LGBTQ+ no Brasil que pretende investigar as origens dessa violência - do Brasil colônia à atualidade.
Com seis episódios e cada um narrado por uma personalidade identificada com as letras e símbolos (LGBTQ+), a série costura depoimentos de personagens relacionados ao tema, imagens de arquivo, documentos históricos e dados mais recentes. Os entrevistados são contextualizados pelos ambientes e situações que os envolvem, trazendo seu cotidiano como espaços dramatúrgicos, como hospitais psiquiátricos, igrejas, delegacias, favelas, universidades, cartórios e casas ajudarão a contar essas histórias.
A produção reúne um panorama histórico das raízes do ódio LGBTQ+ no Brasil e, mais que isso, dá o nome de "amor", tanto à série quanto aos episódios específicos. “Uma proposta que visa subverter a lógica de quem tenta desumanizar pessoas por conta de sua orientação sexual ou de gênero. No fim, a série é só sobre o amor entre pessoas”, sinaliza a produtora Viviane Mendonça da MVM Movimentos Culturais.
A produção fará um resgate histórico que visar narrar que o preconceito sobre a orientação sexual individual vem desde a invasão dos portugueses, com diversas motivações, e se acentua em tempos de avanço da extrema-direita e do discurso de ódio por trás de diversas fake news.
Pesquisa Os requintes de crueldade nos homicídios levantados para a produção (apedrejamento, esfaqueamento, espancamento) atestam: existe um ódio descontrolado no país aos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e queers. ““Uma violência que o Estado brasileiro não combate, não desenvolve políticas afirmativas e nem leis que garantam segurança pública específica para essas populações vulnerabilizadas. E as pessoas negras, num país como o Brasil, que vivem sob o falso mito da democracia racial, acabam sendo os principais alvos desse genocídio sistemático”, analisa o produtor Camilo Cavalcanti da Clariô Filmes.
Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que discriminação por orientação sexual e identidade de gênero é crime no Brasil. A partir de então, a conduta passou a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que atualmente é um crime inafiançável e imprescritível. Ainda assim, sabe-se que apenas a mudança na lei não basta, nem produz por si só, a diminuição da violência contra essa parcela da população.
Mas, o que acontece? De onde vem todo este ódio? Por que todo este ódio? São perguntas como essas que a série Amor – Raiz do Ódio LGBTQ+ no Brasil pretende responder.
ROTEIRO E CRIAÇÃO Toda a pesquisa de personagens para a série foi feita por Matuzza Sankofa, mulher trans e coordenadora da Casa Chama, instituição criada em 2018 para combater a retirada de direitos que se anunciava com a eleição do governo Bolsonaro. A criação e roteiro ficaram a cargo de três nomes de referência:
Celso Sim, artista, produtor, ator e diretor de teatro, ganhador do Grammy Latino 2016 com o CD de Elza Soares, “A Mulher do Fim do Mundo”, do qual é diretor artístico e compositor. Lançou seu primeiro longa-metragem em 2018, "Penetrável Genet", e em 2019 o curta documentário musical, "Conselheiro", com imagens de arquivos históricos de artistas, escritores, religiosos e esportistas negros e ameríndias do Brasil.
Paula Sacchetta, documentarista especializada em temas ligados a direitos humanos que co-dirigiu, em 2017, a série documental “Famílias”, sobre jovens LGBT na periferia de São Paulo, projeto contemplado no Edital de TVs Públicas que foi para o ar na TV Cultura, TV Brasil e outras emissoras, ganhando em 2019 o Prix Jeunesse Iberoamericano na categoria não-ficção 11-15 anos.
Pedro Henrique França, jornalista e roteirista, que já trabalhou na Globo, Estadão e Marie Claire, sendo também autor do documentário "Ecos", sobre o assassinato do então prefeito de Campinas, Toninho do PT, selecionado para o Festival É Tudo Verdade, em 2009.
PRODUÇÃO AMOR - RAIZ DO ÓDIO LGBTQ+ NO BRASIL foi selecionado no Edital Proac Editais 27/2020 na categoria Desenvolvimento. A realização é do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura, ProAC e MVM Movimentos Culturais, com co-produção da Clariô Filmes.
A MVM Movimentos Culturais foi fundada em 2014 em Ribeirão Preto (SP) por Viviane Mendonça, advogada e produtora executiva de grandes eventos, cinema e televisão. Nômade de carteirinha e apaixonada pelo Carnaval, sua carreira é pautada pela gestão de projetos sociais, culturais e, nos últimos anos, audiovisuais. É superintendente da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, onde coordena há 12 anos a Feira Internacional do Livro. Trabalhou em ONGs de formação em empreendedorismo para jovens rurais e com formação de professores. No audiovisual assina a produção executiva do longa "A Vida Invisível", dirigido por Karim Ainouz, produzido pela RT Features, filme premiado na Mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes 2019 que discute a condição feminina e a sujeição da mulher ao patriarcado. Trabalhou com Bananeira Filmes, Filmland International, Fagulha Filmes, Miríade Filmes, Clariô Filmes, RT Features, Prodigo Films, LC Barreto, Porta dos Fundos entre outras. Em 2014 produziu a mostra “Jia Zhangke – A cidade em quadro” que exibiu 12 longas, 6 curtas-metragens e contou com a participação do diretor. Participou como produtora executiva no desenvolvimento do filme “Los Silencios”, de Beatriz Seigner, exibido em 2018 na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Entre outros, compôs a equipe de produção executiva dos longas-metragens “O Vendedor de Sonhos” de Jayme Monjardim, “Divórcio” de Pedro Amorim e “Pixinguinha, um homem carinhoso” de Denise Saraceni. Em 2019, coordenou o Departamento de Cinema da Prodigo Films. Em 2021, assinou a Produção Executiva do longa “Vovó Ninja”, uma produção LC Barreto e direção de Bruno Barreto e da série “As Seguidoras”, de Mariana Youseff e Mariana Bastos para a Paramount+. Junto com Camilo Cavalcanti forma ‘O Par’, com foco em produção executiva, avaliação e desenvolvimento de projetos em diferentes formatos e linguagens.
A Clariô Filmes foi fundada em 2013 no Rio de Janeiro, por Camilo Cavalcanti, com DNA mineiro e pertencente ao mundo. Surge da aspiração por um modelo de produção audiovisual mais horizontal, colaborativo e transparente. Em diferentes formatos e janelas, a Clariô prima por levar às telas, histórias relevantes e potentes. Nos últimos anos, produziu séries e longas com parceiros como HBO, Globo Filmes, Canal Curta, Canal Brasil, Totem Media (NL), Unicef Brasil, entre outros. O primeiro longa-metragem da produtora, “Aquilo que Sobra”, de Humberto Giancristofaro, teve sua estreia mundial no CPH:DOX de 2018, na Dinamarca. Dentre os projetos recentes, destacam-se “Barretão”, longa de Marcelo Santiago coproduzido com Canal Brasil e Globo Filmes, “Sobrepostas”, série de Lívia Cheibub e Martina Sönksen para o Canal Brasil, “Em Busca de Anselmo”, série de Carlos Alberto Jr para HBO, e “Belchior - Apenas um Coração Selvagem”, longa de estreia de Camilo Cavalcanti e Natália Dias, em parceria com Canal Curta e selecionado para o Festival É Tudo Verdade 2022.