Por Paulo Moura, VP de Business Development da Nethone no Brasil
O “buy now pay later” (BNPL) é uma das modalidades de pagamento que mais crescem em todo o mundo. A ideia de pagar em prestações, tão natural no mercado brasileiro, agradou consumidores nos Estados Unidos e na Europa – especialmente nas épocas de pico de vendas do varejo, como Black Friday e Natal.
O PayPal, por exemplo, disse que na Black Friday 2021 houve um aumento de 400% no número de clientes usando a opção de pagamento pelo BNPL, enquanto a europeia Klarna, uma das pioneiras no mundo, registrou um crescimento de 141% nos Estados Unidos. Um quarto dos varejistas online americanos já aceitam o sistema e outros 46% pretendem implementá-lo em 2022. Esses e outros números fazem com que o “buy now pay later” seja uma das opções de pagamentos que mais crescem, já representando 2,6% das vendas do e-commerce global (excluindo o mercado chinês).
A popularidade do BNPL é maior entre o público mais novo. Os Millennials e a geração Z, especialmente, consideraram essa modalidade como a preferida nas compras de fim de ano. Uma forma de enxergar essa preferência é a dificuldade de comprometer grandes valores na compra de produtos. Outra forma é: essa é uma grande oportunidade para aumentar as vendas.
Mas existe um problema: as fraudes usando o “buy now pay later”. Segundo a Helpnet Security, as fraudes usando o BNPL saltaram 66% em 2021. Por que isso vem acontecendo e como evitar problemas usando essa modalidade de pagamento?
Problema #1: crescer a qualquer custo
A legislação financeira em todo o mundo deixa a cargo das empresas a verificação dos antecedentes e da capacidade de crédito dos clientes. Em um ambiente de crescimento acelerado dos meios digitais de pagamento, com recursos abundantes, tem havido um estímulo ao crescimento rápido das empresas – e isso leva parte dos negócios a adotar uma postura mais frouxa em relação à checagem. Para muitos, mostrar grandes números e um crescimento acelerado é mais importante no curto prazo do que crescer de forma sustentável.
Fraudadores estão em toda parte, buscando oportunidades para aproveitar falhas e burlar os sistemas. No caso do BNPL, a busca por crescimento a qualquer custo faz com que os critérios de verificação de identidade e de crédito sejam simplificados – e é mais fácil enganar sistemas mais simples.
Problema #2: contas fake
Um problema que surge como resultado de uma postura leniente das empresas em relação à verificação de crédito (muito menos rigorosa do que a que bancos e operadoras tradicionais de cartão fazem) é a criação de contas fake. Nesse modelo de fraude, algumas compras são feitas, uma primeira parcela é paga (caso o produto ainda não tenha chegado) e, uma vez que o fraudador tenha os produtos, a conta é cancelada.
Isso faz com que, na prática, o fraudador obtenha os produtos desejados por uma fração do preço que o item vale. Em vários mercados europeus, o padrão é o parcelamento em 4 vezes: nesse caso, criminosos viram a oportunidade de obter produtos com 75% de desconto.
Problema #3: account takeover
A criação de contas fake é uma questão complicada, mas que pode ser resolvida de forma relativamente rápida, desde que a empresa esteja mais focada em fazer boas vendas do que em ampliar sua base de clientes a qualquer custo. Um problema ainda mais sério é o chamado account takeover (ou ATO). Nesse caso, os fraudadores usam recursos como o phishing para ganhar acesso às contas reais de clientes e então usam os cartões desses consumidores para fazer compras, ou para testar cartões roubados.
Em 2021, o volume de tentativas de ATO quase triplicou na Black Friday em relação ao ano anterior. Uma razão importante para esse crescimento é a atratividade de startups e fintechs para os fraudadores: empresas com um menor histórico de dados de clientes têm mais dificuldade em combater os casos de account takeover.
É importante destacar que esses não são novos problemas trazidos pelo “buy now pay later”. Essas modalidades de crime já existiam antes do BNPL e certamente continuarão a existir quando novos meios de pagamento forem popularizados. E isso contribui para encontrar soluções para o problema.
Como reduzir fraudes no BNPL
Uma vez que os principais tipos de fraude enfrentados no BNPL não são estruturalmente diferentes daqueles encontrados no e-commerce em geral, é importante adotar no mínimo as melhores práticas de mercado. Um bom exemplo é o uso de soluções de autenticação de clientes em duas etapas, um mecanismo considerado eficiente em evitar várias modalidades de fraude.
Além disso, as empresas mais inovadoras do mercado têm buscado soluções mais sofisticadas de combate às fraudes, com uma condição: não interrompam a experiência do consumidor. O tradicional dilema entre segurança e conveniência vem sendo deixado para trás a partir de soluções tecnológicas como a Know Your Users, que utiliza uma série de pontos de contato com o cliente e identificam padrões nas interações do cliente para certificar se aquela transação é verdadeira.
Essa é uma abordagem comportamental. Cada consumidor tem características próprias de uso do smartphone, velocidade de navegação, acesso a determinados aplicativos e uma infinidade de outras “pegadas digitais”. Algumas são até óbvias, como o uso constante de um único smartphone e, repentinamente, uma troca por outro equipamento em uma localidade distante. Entretanto, existem características muito mais sutis a serem analisadas: a tecnologia Know Your Users utiliza mais de 5.000 atributos sobre o dispositivo, as características do software, da rede e do comportamento do cliente, o que traz uma compreensão completa do consumidor.
O resultado é a capacidade de fornecer recomendações em tempo real sobre possíveis fraudes, com um grau de precisão muito alto. Dessa forma, o uso do “buy now pay later” se torna mais seguro, limitando o risco de fraudes e evitando o bloqueio de transações legítimas. O BNPL ganha uma ferramenta que permite liberar todo o potencial de vendas do negócio.