Cultivar com sustentabilidade, sem abrir mão do lucro. Essa é a fórmula que muitos produtores rurais vêm buscando para produzir alimentos usando o meio ambiente a seu favor. E foi, principalmente, aprendendo com os erros que Laercio Dalla Vecchia, campeão nacional Cesb (Comitê Estratégico Soja Brasil) de produtividade da Safra 2019/2020 (118,8 sacas por hectare), conseguiu encontrar o equilíbrio perfeito entre a agricultura sustentável ou de Princípios — como ele a intitula —, e maior retorno financeiro do negócio familiar.
“Sempre penso que esta terra que estou cultivando hoje, será a mesma terra que meus filhos, netos e tataranetos vão plantar. Nossa missão, como agricultores, é produzir alimentos fortes, saudáveis, de qualidade, preservando o meio ambiente e tendo a natureza a nosso favor", destaca Dalla Vecchia, produtor de grãos em Mangueirinhas, cidade do sudoeste do Paraná de cerca de 17 mil habitantes, a 389 km de Curitiba.
Ele explica que um dos cuidados com a terra é a utilização de plantas de cobertura para controle de doenças, redução de herbicidas e reciclagem de nutrientes. “O solo não pode ver o sol diretamente. As plantas de cobertura trabalham como se fossem painéis solares, já que recebem diretamente a luz do sol. Elas ajudam na conservação da vida do solo.” Segundo Della Vecchia, elas são responsáveis pela fotossíntese, transformando a luz solar em massa e carbono orgânico. “A matéria orgânica é a principal matéria prima da soja, cerca de 90%”, diz.
O uso sustentável do solo também passa pela escolha de produtos que preservam e alimentam a matéria orgânica da terra. Tais práticas ajudaram a fazenda a manter a produtividade mesmo diante da estiagem recente registrada no Paraná. Para reduzir perdas de safra, entraram em cena as boas práticas no cultivo que fazem a diferença em anos bons, mas em anos ruins, são fundamentais.
“Ainda estamos vivendo um período bastante difícil por conta da escassez hídrica. Tiveram regiões que ficaram 45 dias sem chuva. Poucos anos atrás eu colhia 90 sacos por hectare, em média. Em 2021, foram 80 sacos, pois choveu muito e não tivemos luminosidade suficiente. Este ano, colhi 70 sacos, em média, por hectare. Perderemos potencial produtivo, devido ao estresse do sol. Mas, ainda assim, estou muito feliz pois mesmo com a falta de chuvas, estamos colhendo muito bem. As boas práticas minimizam a perda”, conta Della Vecchia.
Com essas boas práticas, o custo de produção não foi alto e, ainda que o volume da safra não seja o ideal, o agricultor se diz realizado, comparado aos demais produtores do município, que colheram em média 55/60 sacas.
Quanto à agricultura de princípios, além de praticar a rotação de cultura e usar plantas de cobertura para proteger o solo e os grãos, a ideia é aprimorar, frequentemente, os testes na terra, utilizando fertilizantes sustentáveis, sem cloro na composição. O agricultor explica que o cloro, inclusive, é um dos vilões da lavoura, pois prejudica a sobrevivência das plantas de cobertura e a biodiversidade do solo.
O uso exacerbado do cloro gera um desequilíbrio natural que torna o ambiente mais propício às pragas. “Os fertilizantes à base de potássio mais utilizados no Brasil normalmente são feitos com KCl, produto importado constituído por metade cloro e metade potássio. Contudo, esse teor de cloro mata a microbiota do solo e prejudica a produtividade da plantação no longo prazo.”, ressalta Della Vecchia.
Além do cloro tornar o solo infértil, ele é um sal que o desidrata, tornando-o mais seco e arenoso. Além disso, contamina os lençóis freáticos que carregam o sal para os solos de toda a região.“Quanto mais se avança, mais se volta para o princípio. Antes, eu era um dos agricultores que mais usava agroquímicos e hoje um dos que menos utiliza. Procuro usar a natureza a meu favor”, salienta Della Vecchia. E completa: “O melhor jeito de evoluir é por as ações em prática, é testando e compartilhando o que dá certo. Cada vez que você compartilha uma informação, você ganha duas de volta.”
Para o agricultor, o agronegócio brasileiro é também um grande produtor de novas tecnologias para tornar a agricultura mais sustentável e rentável a longo prazo. Della Vecchia inclui em sua rotina no campo a substituição do cloreto de potássio (mais tradicional, o KCl) por produtos brasileiros livres de cloro, como o K Forte, da Verde Agritech, que utiliza desde 2020. “É muito importante nos inteirarmos de iniciativas que buscam criar processos de produção e produtos aliados à natureza e aos agricultores”, destaca.
Della Vecchia cita também a tecnologia Bio Revolution da Verde Agritech, que permite a inoculação dos fertilizantes com o microrganismo Bacillius aryabathai. “Como os produtos não têm cloro ou outra substância prejudicial, o bacillius encontra ali um ambiente propício à sua sobrevivência. Assim o agricultor otimiza sua aplicação e nutre ainda mais a vida em seu solo”, explica o produtor.
Outro exemplo de boas práticas com o uso de novas tecnologias agrícolas é o Monitoramento Intensivo de Pragas (MIP). Na natureza, há inúmeros insetos presentes nas plantas, mas nem todos são prejudiciais. O agricultor ressalta que só é preciso interferir quando realmente há necessidade. “Enquanto os bichinhos ‘do bem’ estão ‘ganhando a guerra' não é preciso nenhuma aplicação química. Temos um pano de batida, abanamos a soja com ele e começamos a perceber e aprender quais bichos são favoráveis para o cultivo e quais não são. A maioria é predador daqueles que prejudicam a planta. Monitoro tudo. Minha principal estratégia, que me rendeu o prêmio nacional do Cesb, é a assistência, o monitoramento e as boas práticas agrícolas”, diz o produtor rural de Mangueirinhas.
“Temos uma vida intensa no solo e cada vez que a gente o expõe ao cloro, muitos microrganismos bons morrem. Se pudermos não agredi-lo, ele consegue se recuperar ainda mais rápido. Um solo rico e fértil produz um alimento muito mais saudável, com mais vitaminas. A qualidade da terra reflete na mesa do consumidor e se a gente a trata bem, ela responde ao nosso manejo e nos devolve frutos bons”, conclui Della Vecchia.