O grande vencedor das eleições legislativas de domingo (28) em El Salvador é o presidente Nayib Bukele. Com o escrutínio, o chefe de Estado de 39 anos, visto por alguns como inovador e por outros como autoritário, sai do pleito mais fortalecido que nunca pelos resultados de seus aliados e passa a deter praticamente todos os poderes no pequeno país da América Central.
Vestindo casacos de couro, meias coloridas e um boné de time de basebol com a aba virada para trás que já virou sua marca registrada, Bukele está longe da imagem habitual de um chefe de Estado. Mas além do visual, o jovem presidente chama atenção por sua estratégia política.
Filho de um empresário de origem palestina, Bukele sempre se apresentou como um personagem próximo do povo. Uma retórica que o ajudou a vencer a eleição presidencial de 2019, na qual acabou com a tradição do bipartidarismo que dominava a política de El Salvador desde o final da guerra civil em 1992. No dia de sua posse, o novo presidente organizou uma cerimônia ao ar livre, em uma praça no centro de San Salvador, quebrando o protocolo e reforçando sua imagem de político acessível.
+LEIA TAMBÉM
Desde a vitória, ele multiplica medidas para reforçar a aura de “salvador de El Salvador”. Foi assim que, no auge da crise sanitária, entregou um bônus de US$ 300 a famílias necessitadas, além de alimentos e insumos para enfrentar a pandemia de Covid-19. Gestos que tiveram um impacto mais que positivo em sua popularidade, principalmente em um país onde a dívida externa alcança 90% do PIB.
Representante da “geração Y” - como são chamadas as pessoas que nasceram no início dos anos 1980 - Bukele sabe usufruir dos benefícios das redes sociais, nas quais é bastante ativo. As imagens de sua vida em família, que ele posta frequentemente, são compartilhadas em seguida por seus partidários e chegam a viralizar.
Essa postura de “millenial” começou a ser construída desde foi eleito prefeito de Nuevo Cuscatlán, entre 2012 e 2015, antes de assumir a prefeitura da capital. Quando dirigia San Salvador, ele chegou a ser suspenso de suas funções por ter insultado vereadores, marcando mais um ponto no perfil "disruptivo".
Contra as gangues
Do ponto de vista político, o chefe de Estado não hesita em abordar temas delicados. Além de criticar abertamente os partidos tradicionais, ele acusa a velha guarda da política salvadorenha de não ter feito nada pelo povo ou pelas vítimas da guerra civil (1980-1992), a ponto de questionar os acordos de paz firmados. Outro tema recorrente em seu discurso é a luta contra as “maras”, as gangues criminosas que semeiam o terror no país.
Mas, para seus opositores, essa estratégia esconde um personagem autoritário e pouco respeitoso das normas democráticas. Um temperamento que Bukele mostra em ocasiões como, no ano passado, quando invadiu o Parlamento acompanhado de policiais e militares armados apenas para pressionar os deputados.
Até agora seus rompantes foram bloqueados pelo Parlamento, que impediu ações mais extremas em seus dois primeiros anos como presidente. Mas, com o resultado do pleito deste domingo (29), o partido Novas Ideias (NI), que Bukele ajudou a formar e que disputou uma eleição pela primeira vez, juntamente com a Grande Aliança Nacional (GANA), que o levou ao poder em 2019, seus dois aliados conquistaram a maioria dos votos segundo os números divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).
Com o controle legislativo, o presidente poderá influenciar as nomeações no Tribunal Supremo de Justiça, na Controladoria e na Promotoria, órgãos com os quais teve disputas do passado. Além disso, a partir de agora, ele terá portas abertas para promover todas as reformas constitucionais que desejar.