O novo governo de Israel enfrenta nesta terça-feira (15) o seu primeiro teste, com uma marcha da extrema-direita por Jerusalém Oriental que pode reacender o conflito com o Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
A "Marcha das Bandeiras" celebra o "Yom Yerushalaim" ("Dia de Jerusalém"), quando os israelenses comemoram o aniversário da "reunificação" da Cidade Sagrada após a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
A concentração para a passeata começou por volta das 11h (horário de Brasília). Nela, israelenses radicais passeiam por áreas da Cidade Velha de Jerusalém, na parte Oriental da cidade.
A marcha é considerada uma "provocação" por palestinos, que se organizaram para impedi-la e marcaram protestos para o mesmo horário em Gaza e na Cisjordânia.
Antes da passeata, a polícia israelense dispersou centenas de palestinos perto do portão de Damasco, na entrada da Cidade Velha (veja mais abaixo).
Forças de segurança israelenses dispersam palestinos perto do portão de Damasco, em Jerusalém Oriental, em 15 de junho de 2021, antes da "Marcha das Bandeiras" — Foto: Ahmad Gharabli/AFP
Polícia israelense detém palestino em meio às tensões antes da 'Marcha das Bandeiras', passeata de israelenses de extrema-direita na Cidade Velha de Jerusalém, em 15 de junho de 2021 — Foto: Ammar Awad/Reuters
Manifestante palestino gesticula contra forças policiais israelenses durante protesto contra a 'Marcha das Bandeiras', em que grupos israelenses de extrema-direita comemoram a "conquista" de Jerusalém Oriental, em 15 de junho de 2021 — Foto: Mussa Qawasma/Reuters
Importância da Cidade Velha
Israel considera Jerusalém sua capital indivisível. Palestinos consideram a parte leste da cidade como um território ocupado (assim como a comunidade internacional) e querem transformá-la na capital de um futuro estado da Palestina.
É na parte Oriental de Jerusalém que fica a Cidade Velha — e, dentro dela, locais sagrados para o islamismo, o judaísmo e o cristianismo como a Esplanada das Mesquitas, a Torre de Davi e o Santo Sepulcro (veja mapa abaixo).
A Esplanada das Mesquitas é chamada pelos muçulmanos de Al-Haram al-Sharif (Nobre Santuário) e pelos judeus de Har HaBayit (Monte do Templo). Ela abriga o Domo da Rocha, a mesquita Al-Aqsa (A Distante) e o Muro das Lamentações, vestígio do templo judaico destruído pelos romanos no ano 70.
O local é o mais sagrado do judaísmo e o terceiro mais sagrado do Islã (depois de Meca e Medina).
Cidade Velha de Jerusalém
Parte Oriental da Cidade Sagrada reúne locais sagrados para o islamismo, o judaísmo e o cristianismo.
A "Marcha das Bandeiras" seria realizada em 10 de maio, coincidindo com o fim do Ramadã (mês sagrado de jejum e oração para os muçulmanos), mas foi desviada no último minuto para longe do Portão de Damasco, da Cidade Velha e do Bairro Muçulmano para evitar conflitos.
Mas, mesmo após o redirecionamento, a marcha ajudou a desencadear o conflito de 11 dias entre Israel e Hamas que deixou mais de 250 mortos (a esmagadora maioria do lado palestino).
+VEJA TAMBÉM:
Pessoas seguram bandeiras do Hamas em 7 de maio de 2021 em frente ao Domo da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém — Foto: Ammar Awad/Reuters
Reação palestina
Além de convocar protestos para o mesmo horário em Gaza e na Cisjordânia, palestinos se mobilizaram para tentar impedir a marcha. O Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e o Fatah, que administra a Cisjordânia, pediram aos palestinos que fossem para a Cidade Velha.
"Advertimos sobre as repercussões perigosas que podem resultar da intenção da potência ocupante de permitir que colonos israelenses extremistas realizem a Marcha das Bandeiras em Jerusalém ocupada", disse o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, em uma rede social.
O enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, pediu "a todas as partes que atuem com responsabilidade e evitem provocações que possam levar a um novo ciclo de confrontos".
A embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém pediu a seus funcionários que não compareçam à Cidade Velha de Jerusalém, devido à marcha e às "possíveis contramanifestações".
Israelenses caminham com bandeiras fora da Cidade Velha de Jerusalém, em 15 de junho de 2011, durante a "Marcha das Bandeiras", passeata da extrema-direita do país que comemora a "conquista" de Jerusalém — Foto: Ronen Zvulun/Reuters
Palestinos protestam no norte da Faixa de Gaza contra a "Marcha das Bandeiras", passeata de grupos israelenses de extrema-direita dentro e ao redor da Cidade Velha, em Jerusalém Oriental, que comemoram a "conquista" da Cidade Sagrada durante a Guerra dos Seis Dias — Foto: Mohammed Salem/Reuters
Novo governo de Israel
A marcha ocorre no segundo dia de governo do novo primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, que conseguiu formar uma coalização que destronou Benjamin Netanyahu, o premiê mais longevo da história do país, após 12 anos.
Bennett é de um partido de extrema-direita, mas para conseguir formar um governo se juntou ao progressista de centro Yair Lapid e fez uma coalizão improvável de oito partidos: dois de esquerda, dois de centro, três de direita e um árabe.
A coalizão foi aprovada por um triz, em uma votação apertada que fez muita gente duvidar da sua viabilidade até o último segundo. No final, foram 60 votos a favor e 59 contra. Um parlamentar se absteve.
+VEJA TAMBÉM:
O novo primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett (à direita), e o primeiro-ministro suplente e ministro das Relações Exteriores, Yair Lapid — Foto: Gil Cohen-Magen/AFP
Na segunda-feira à noite (14), o novo ministro da Segurança Interna, Omer Bar-Lev, decidiu manter a manifestação, apesar dos pedidos de suspensão por parte de deputados árabes israelenses e de líderes palestinos.
"O direito de manifestação é um direito de todos na democracia", afirmou o gabinete do ministro em um comunicado para justificar a decisão. "A polícia está preparada e faremos tudo o que estiver em nossas mãos para preservar o delicado tecido da convivência".
O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, se reuniu com chefes de polícia, militar e de inteligência nesta terça-feira (15) e "ressaltou a necessidade de evitar atritos e proteger a segurança pessoal dos cidadãos israelenses, judeus e árabes", disse seu gabinete.