Os presidentes de Rússia e Estados Unidos, Vladimir Putin e Joe Biden, elogiaram o encontro que tiveram nesta quarta-feira (16) em Genebra, na Suíça — a primeira reunião entre os dois mandatários, que disseram que as conversas foram "construtivas".
Apesar disso, tanto Putin quanto Biden avaliaram que ainda há algum grau de distanciamento entre o Kremlin e a Casa Branca: eles não se convidaram para visitas mútuas e evitaram falar em "confiança" entre os dois líderes. Em declarações, ambos deram sinais de que retaliações podem ocorrer caso a relação se deteriore.
Depois do encontro, Biden e Putin concederam entrevistas coletivas separadamente. Ambos abordaram os seguintes temas
Veja em detalhes abaixo o que cada um disse sobre o encontro
Presidente americano Joe Biden em entrevista coletiva após encontro com Vladimir Putin, da Rússia, em Genebra, em 16 de junho de 2021 — Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Armas nucleares e relações mútuas
Putin defendeu que as duas potências países são responsáveis por garantir a estabilidade estratégica nuclear mundial e disse que seu governo começará uma série de discussões com Washington para a proposta de possíveis melhorias no tratado New START sobre armas nucleares.
Da mesma forma, Biden disse que conversou com Putin sobre estratégias para evitar a volta da nuclearização e rechaçou a tese de que há em curso uma nova Guerra Fria — período de tensão entre EUA e a então União Soviética, que durou entre 1946 e 1991.
O presidente americano também afirmou que a relação entre EUA e Rússia "precisa ser estável e previsível", mas disse que os americanos vão reagir a ameaças, como por exemplo, ciberataques.
"A última coisa que ele quer, eu acho, é uma nova Guerra Fria", disse Biden.
O New START (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas) foi assinado em 2010, limita o número de ogivas nucleares estratégicas, mísseis e bombardeiros que as duas potências podem usar foi recentemente ampliado.
No ano passado, o governo de Donald Trump rejeitou a proposta russa de prorrogar o tratado por um ano. Após assumir, o novo presidente dos EUA, Joe Biden, declarou a intenção de prorrogá-lo — e a Rússia afirmou que o gesto era bem-vindo.
Os dois países também adotaram uma declaração conjunta, reafirmando seu compromisso com o princípio "de que não pode haver vencedores em uma guerra nuclear e que ela nunca deve ser travada", segundo o site oficial do governo russo.
Direitos humanos
Alexei Navalny, em avião no aeroporto em Berlim, antes da partida para a capital russa, Moscou, em janeiro — Foto: Polina Ivanova/Reuters
Putin, o primeiro a falar a jornalistas relatou que o tema da Ucrânia também foi discutido. O presidente russo reiterou que, durante toda a reunião, não houve nenhum momento de hostilidade e que ambos mostraram o desejo de se entender.
O mandatário russo também falou sobre o destino de seu principal opositor Alexei Navalny, preso ao retornar ao país: "Ele sabia que estava infringindo as leis russas". A prisão do ativista foi um dos pontos de tensão da Rússia com o Ocidente neste ano, e Putin defendeu a detenção.
"Ele sabia que seria preso quando retornasse, mas voltou mesmo assim", disse Putin.
Biden também falou da preocupação do governo americano com o tratamento dado ao opositor Navalny: "Deixei claro para o presidente Putin que continuarei a levantar questões de direitos humanos fundamentais, porque é isso que somos."
Ciberataques
O presidente russo disse também que chegou a um acordo com Biden para que os dois países iniciem consultas sobre temas que envolvem a segurança cibernética.
O americano defendeu que sistemas relacionados à infraestrutura têm que ser respeitados e deveriam "estar fora dos limites" das tentativas de invasão. Os EUA acusam hackers russos não identificados por uma série de ataques cibernéticos ao país.
Putin, no entanto, se defendeu e disse que muitos dos ataques cibernéticos direcionados à Rússia vinham dos EUA e Canadá.
Retorno de diplomatas
Embaixadores dos dois países retornarão aos seus postos diplomáticos para seguir com os esforços de relações entre a Rússia e os EUA.
Putin disse que o retorno é certo, mas que quando e como isso vai acontecer é uma "questão puramente técnica".
Em abril, a Rússia expulsou diplomatas americanos sob acusação de espionagem logo após os EUA anunciarem uma série de sanções ao país.
Putin afirmou, antes do início na reunião, ao entrar na Villa La Grange – histórica construção do século 18 que é sede do encontro –, que esperava uma conversa produtiva.
"Senhor presidente, gostaria de agradecer sua iniciativa de nos reunirmos hoje", disse Putin.
"É sempre melhor nos encontrarmos cara a cara", afirmou Biden.
Biden disse então que os dois líderes tentarão determinar áreas de cooperação entre os dois países e defender os interesses mútuos.
Biden é o 5º presidente americano a se encontrar com Putin desde que este chegou ao poder, no fim de 1999.
Genebra recebe os líderes no momento em que os dois países enfrentam um dos piores momentos de sua relação bilateral – foi lá também que, em 1985, sediou o histórico primeiro encontro entre Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, então no auge da Guerra Fria.
Além de Biden e Putin, estarão presentes os chefes de diplomacia dos dois países, Antony Blinken e Serguei Lavrov.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se cumprimentam antes da reunião em Villa la Grange, em Genebra, na Suíça, em 16 de junho de 2021 — Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Sem grandes expectativas
Embora reconheçam a importância da aproximação e da cúpula como um primeiro passo, nenhum dos lados nutre grandes expectativas de resultados efetivos para o encontro de Genebra.
“Não estou certo de que se chegará a qualquer acordo. Vejo esta reunião com otimismo prático”, disse o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, que falou a jornalistas na terça-feira.
Opinião parecida foi emitida pela Casa Branca, que afirmou não esperar grandes anúncios, mas que as relações a longo prazo entre os países sejam mais “estáveis e previsíveis” após Genebra.