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27/07/2021 às 23h07min - Atualizada em 28/07/2021 às 00h00min

Multa por não usar biquíni: veja outros exemplos de sexismo relacionados às roupas das mulheres

Da seleção norueguesa de handebol multada por não usar biquíni aos macacões das ginastas alemãs nas Olimpíadas, uniformes de atletas tem refletido situações vividas também em escolas e locais de trabalho, onde roupas podem ser mais comentadas e julgadas do que o próprio desempenho.

G1 - Mundo
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Da seleção norueguesa de handebol multada por não usar biquíni aos macacões das ginastas alemãs nas Olimpíadas, uniformes de atletas tem refletido situações vividas também em escolas e locais de trabalho, onde roupas podem ser mais comentadas e julgadas do que o próprio desempenho. O caso da seleção norueguesa de handebol de praia, que recentemente foi multada em 1.500 euros (cerca de R$ 9.200) depois que as mulheres usaram shorts em vez de biquínis durante um jogo no campeonato europeu (leia mais sobre o caso no fim da matéria), reacendeu a discussão sobre o sexismo na exigência de peças de vestimenta.
Enquanto as jogadoras são obrigadas a usar biquínis “com um ajuste justo e corte em um ângulo para cima em direção ao topo da perna”, seus colegas do time masculino jogam com folgadas camisetas e bermudas.
Mas não é só no esporte – mulheres também enfrentam regras baseadas em sexismo que determinam como devem se vestir em praticamente todos os ambientes que frequentam.
No trabalho
Nos mais diferentes ramos de atuação, o que veste, como corta e penteia o cabelo e o quanto usa (ou não) de maquiagem pode render mais assunto do que o desempenho em si quando a profissional é uma mulher.
No início deste mês, chamaram atenção fotos de mulheres do exército ucraniano, obrigadas a desfilar usando sapatos de salto alto em uma parada militar – uma espécie de scarpin.
Pernas de mulheres das Forças Armadas da Ucrânia que foram obrigadas a marchar de alto alto
Ukrainian Defence ministry press-service / AFP
O sapato faz parte das roupas oficiais das militares, mas originalmente é usado apenas para ocasiões formais, e não para marchar com o uniforme de batalha. Uma cadete afirmou que é mais difícil marchar com esse tipo de sapato do que em botas.
Após uma enxurrada de críticas, o Ministério da Defesa da Ucrânia desistiu da ideia de fazer as militares usarem os scarpin em desfiles.
Em 2019, foi revelado em um artigo da Business Insider que milhares de mulheres no Japão estavam sendo solicitadas a não usarem óculos em seus locais de trabalho – porque isso não seria esteticamente agradável e daria a elas uma impressão de “frieza”.
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Outra queixa bastante comum no Japão, mas em diversos outros países, inclusive no Brasil, são as de locais de trabalho que obrigam suas funcionárias a usar maquiagem e saltos altos, algumas durante longos períodos por dia.
A medida chega até a afetar ricas e famosas: em 2015, por exemplo, mulheres foram proibidas de usar sapatos de salto baixo na estreia do filme “Carol”, no Festival de Cannes, independente de sua idade ou condição física. Para protestar contra a regra do festival, três anos depois do episódio, atrizes como Julia Roberts e Kristen Stewart tiraram seus sapatos de salto no tapete vermelho.
Na escola
No ambiente escolar, desde muito jovens as crianças são expostas a códigos de vestimenta. Em geral determinadas pela direção de cada unidade, eles variam e costumam proibir shorts ou saias muito curtas para meninas, mas às vezes há exageros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, é recorrente a proibição ao uso de calças tipo legging, e é comum que garotas sejam mandadas para casa por tentar assistir às aulas usando a peça. Foi o caso da jovem Kate Wilson, que tinha 16 anos quando isso aconteceu com ela, em 2018, e foi acusada pelo diretor de “estar deixando seu professor desconfortável” (veja abaixo uma foto do que ela vestia naquele dia).
Kate Wilson mostra a roupa que usava no dia em que foi mandada para casa pela direção de sua escola
Reprodução/Facebook/Kate Wilson
Em maio deste ano, uma escola na Flórida se tornou alvo de polêmica após retocar fotos de 80 alunas de seu anuário, para cobrir seus peitos e ombros digitalmente, com roupas sendo “aumentadas”, algumas com edições muito mal-feitas. Nenhuma foto de aluno do sexo masculino foi alterada – mesmo quando eles apareciam sem camisa ou apenas de sunga.
Riley é uma das alunas cuja foto foi alterada em escola nos EUA
Arquivo Pessoal
No Brasil, escolas já se tornaram notícia por tentar impôr restrições às vestimentas não apenas de suas alunas, mas até mesmo por opinar sobre o que vestem suas mães.
Em 2017, em Santos (SP), um colégio particular gerou revolta ao enviar uma carta proibindo o uso de shorts e saias curtas, sob a justificativa de que havia “atitude abusiva, sobretudo por parte das meninas”, que têm provocado “situações indesejáveis”. A escola ainda dizia que “o uso desses itens é sintomático de uma realidade social mais ampla, que merece ser cuidadosamente analisada e criticada”.
Bem antes, em 2014, uma escola em Santa Inês (MA), se voltou aos pais e responsáveis: proibiu a entrada daqueles que estivessem usando short, minissaia ou mini-blusa, e chegou a barrar mães.
Já em 2016, o G1 ouviu meninas que se mobilizavam para questionar normas, debater preconceito, argumentos machistas e empoderamento das mulheres já na sala de aula. E mostravam, em fotos, qual seria o traje considerado mais apropriado por elas.
No esporte
Outros esportes também lidam com situações semelhantes à do handebol, em que as atletas femininas são obrigadas a vestir uniformes mais curtos e justos do que seus colegas masculinos – é só reparar nos shorts em jogos de vôlei e basquete, entre outros.
Na ginástica, onde as competidoras costumam usar maiôs que também deixam grande parte do corpo à mostra, a alemã Sarah Voss e mais duas colegas desafiaram convenções ao aparecerem com macacões de corpo inteiro no Campeonato Europeu, em abril, e novamente agora, nas Olimpíadas de Tóquio.
Ginastas da Alemanha durante os Jogos Olímpicos de Tóquio
Reuters/Mike Blake
A federação alemã disse que elas estavam se posicionando contra a “sexualização na ginástica”, acrescentando que a questão se tornou ainda mais importante para prevenir o abuso sexual.
A ginasta Elisabeth Seitz disse que, com o traje, tinha uma coisa a menos com se preocupar, porque não havia risco de mostrar sem querer alguma parte de seu corpo.
No tênis, em que homens podem usar shorts e até bermudas de corte amplo, as mulheres continuam vestindo saias extremamente curtas. E sendo repreendidas quando ousam desafiar a tradição. Em 2018, por exemplo, Serena Williams usou calças pretas coladas ao corpo durante uma partida no French Open, que lhe renderam comparações com uma personagem do filme “Pantera Negra”.
A tenista Serena Williams usou macacão no French Open de 2018
Reprodução/Instagram/Serena Williams
A atleta explicou que buscava evitar coágulos, já que tinha tido problemas de saúde após o recente parto de sua filha. Ainda assim, a Federação Francesa de Tênis proibiu que ela voltasse a vestir o uniforme, dizendo que era preciso “respeitar o jogo e o local”.
Mas, em 1985, outra tenista, Anne White, usou um macacão de lycra branco para disputar um jogo na primeira etapa de Wimbledon. Segundo o site da revista Vox, foi dito que: “É atraente, mas você tem que ter a forma física de Anne White. Ela foi feita para usá-lo. E o resto do mundo não”.
Cortando para 2002, Serena Williams tentou pela primeira vez escapar da ditadura da minissaia e disputou um jogo no US Open com um macaquinho curto. A mesma Vox lembra dos adjetivos usados então pela imprensa: “agarrado”, “ultra-arriscado”, “curvilíneo” e deixando “pouco para a imaginação”, de acordo com o ensaio de Jaime Schultz de 2005 Reading the Catsuit, publicado no Journal of Sport & Social Issues.
Já o crítico de moda do jornal “Washington Post”, Robin Givhan, a descreveu como “uma garota trabalhadora de um tipo diferente”, e chamou a peça de roupa de “vulgar”.
Atitudes
Nos últimos anos, algumas atitudes têm sido tomadas para eliminar o sexismo no código de vestimenta exigido das mulheres. Uma ação relevante foi o fim da exigência do desfile em trajes de banho em alguns concursos de beleza.
Em 2018, a prova foi eliminada do Miss America, que também anunciou que passaria a aceitar  candidatas com corpos de “todas as formas e tamanhos”. Segundo a presidente do conselho de diretores do concurso, Gretchen Carlson, o conselho chegou a ouvir de potenciais candidatas que elas não queriam “estar lá em saltos altos e maiôs”.
Ação semelhante já havia sido adotada dois anos antes, também nos Estados Unidos, pelo Miss Teen, que trocou os biquínis por trajes esportivos. Em 2016, o concurso, aberto para mulheres de 14 a 19 anos e administrado pela organização do Miss Universo, informou em seu site que “em uma sociedade que aumenta a prioridade do feminismo e da igualdade, ver mulheres desfilando em um palco de biquíni pode ser antiquado”.
Participantes do Miss América se apresentam com biquini, na edição de 2016
Mel Evans/ AP
Ainda em 2014, um apresentador de TV na Austrália conduziu um experimento para provar que também em seu ambiente de trabalho as colegas mulheres eram vítimas do sexismo por sua forma de se vestir.
Karl Stefanovic usou o mesmo terno azul ininterruptamente durante um ano, e disse que ninguém sequer reparou. “Mas quando as mulheres usam a cor errada são duramente criticadas. Elas dizem uma coisa errada e há milhares de tuítes sobre o erro”, afirmou.
Em entrevista ao jornal “The Age”, na época, Stefanovic afirmou que sua colega na bancada, a jornalista Lisa Wilkinson, recebe regularmente mensagens de telespectadores e comentários na imprensa sobre as roupas que escolhe para usar em frente às câmeras.
“Sou julgado pelas minhas entrevistas, pelo meu senso de humor – ou seja, pela maneira como eu desempenho minhas funções, basicamente. Enquanto isso, as mulheres são normalmente julgadas pelo que estão vestindo ou por seu cabelo”, acrescentou.
Seleção norueguesa de handebol
O caso da seleção norueguesa feminina de handebol aconteceu durante a disputa pela medalha de bronze do campeonato europeu, na Bulgária, e a multa foi aplicada pela Federação Europeia de Handebol (EHF, na sigla em inglês), que disse em um comunicado que sua comissão disciplinar havia lidado com “um caso de vestimenta imprópria”.
De acordo com o comunicado, na partida que definiria o terceiro lugar, em 18 de julho, contra a Espanha, as norueguesas usaram shorts que “não estavam de acordo com os Regulamentos de Uniforme de Atletas definidos nas Regras de Jogo do Handebol de Praia da EHF”.
Equipe feminina de handebol de praia da Noruega, com os shorts que usaram no lugar de biquínis
Reprodução/Twitter
A multa, calculada em 150 euros por jogadora, foi criticada pela federação norueguesa, enquanto o ministro dos esportes do país, Abid Raja, disse que era “completamente ridícula” e que as atitudes precisavam mudar, segundo a agência Reuters.
A federação norueguesa disse no Twitter que estava orgulhosa das mulheres por se levantarem e dizer já era o suficiente.
“Nós, da NHF, apoiamos vocês. Juntos, continuaremos a lutar para mudar as regras do vestuário, para que as jogadoras possam jogar com as roupas com as quais se sentem confortáveis”, acrescentou.
Após a grande repercussão do caso, a cantora pop Pink se ofereceu para pagar a multa para a seleção norueguesa.
"Estou muito orgulhosa da equipe feminina de handebol da Noruega por protestar contra as regras muitos sexistas sobre seu 'uniforme'…A Federação Europeia de Handebol deveria ser multada por sexismo. Muito bem, garotas. Ficarei feliz em pagar a multa para vocês. Continuem assim", escreveu a artista em seu perfil no Twitter.
Vídeos: Os mais assistidos do G1 nos últimos 7 dias


Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/07/27/multa-por-nao-usar-biquini-veja-outros-exemplos-de-sexismo-relacionados-as-roupas-das-mulheres.ghtml
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