Como ficaria o quadro de medalhas se a população e a riqueza de um país fossem levadas em consideração? Isaquias Queiroz recebe a medalha de ouro
Maxim Shemetov / Reuters
O quadro de medalhas das Olimpíadas de Tóquio, no Japão, foi novamente dominado pelos maiores países, como os Estados Unidos, que terminaram em primeiro lugar. Mas como ficaria o ranking se a população e a riqueza fossem levadas em consideração?
Quando se trata dos Jogos Olímpicos, há uma forte sensação de déjà vu. A cada quatro anos, os mesmos poucos países conquistam medalha após medalha — Estados Unidos, China, Rússia — e em Tóquio não foi diferente.
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Então, o que faz países como os EUA dominarem o ranking, enquanto outros ficam para trás? Economistas e nerds de dados têm algumas teorias.
"Ainda está claro pelos padrões que o que importa é a população, o nível de renda e o sistema político", diz David Forrest, economista da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, que pesquisa previsões para as Olimpíadas.
A população é importante, diz Forrest, porque quanto maior o pool de atletas, maior a probabilidade de um país produzir verdadeiros competidores.
"É claro que muito poucas pessoas que nascem têm potencial para ser um atleta de classe mundial", diz ele.
Considere um país como Luxemburgo, que tem uma população de 633.622 habitantes. Essa pequena nação, encravada entre Bélgica, França e Alemanha, enviou 12 atletas para competir em sete esportes e não conquistou medalhas. Enquanto isso, os EUA, que têm a terceira maior população do mundo (328 milhões), depois da China e da Índia, enviaram 613 atletas para competir em 35 esportes e levaram para casa mais medalhas do que qualquer outro país.
Alguns países apresentam desempenho superior, devido ao tamanho de sua população.
No entanto, um ranking alternativo, que analisa o número de medalhas conquistadas por milhão de pessoas, mostra um resultado distinto.
Nesse cenário, a minúscula nação europeia de San Marino, com uma população de pouco mais de 33 mil habitantes, sai vitoriosa, embora tenha conquistado apenas três medalhas (uma de prata e duas de bronze). Os EUA nem chegaram ao top 20, ficando em 60º lugar.
Mas a população, por si só, não é suficiente para garantir que um país chegue ao pódio.
"Se um país for muito pobre, não terá os recursos para converter esse potencial em capacidade real de competir no cenário mundial", diz Forrest.
"Eles precisam ter a habilidade de participar de esportes em primeiro lugar. Por exemplo, eles podem ter uma grande habilidade natural na natação que está esperando para ser desenvolvida — mas de nada adianta se não houver piscinas."
Quando os países mais pobres ganham, eles tendem a vencer em esportes de custo mais baixo, como luta livre, por exemplo, assinala Forrest, enquanto os mais ricos têm desempenho superior em esportes caros, como equitação e vela.
Quando se leva em consideração o PIB per capita (soma das riquezas de um país dividida por sua população), a China e a Rússia (números dois e três no quadro geral de medalhas), na verdade, se saíram melhor do que os Estados Unidos. Sob esses parâmetros alternativos, a China vem em primeiro lugar e a Rússia em segundo, com o Quênia em terceiro.
Os EUA, normalmente o líder, ficaram para trás na 15ª posição.
Quadro por PIB per capita
BBC
Fatores culturais e políticos
Existem fatores culturais e políticos também. Forrest argumenta que os países que pertenciam à União Soviética (URSS) tendem a ter uma vantagem, por causa da forte infraestrutura esportiva que foi estabelecida pelos regimes comunistas.
Os países da Commonwealth (organização formada por 53 países, a maioria dos quais ex-colônias britânicas) também tendem a se sair melhor do que o esperado em comparação com seu tamanho e riqueza.
Forrest diz acreditar que se deve ao fato de a Grã-Bretanha ter sido pioneira no desenvolvimento do esporte como o conhecemos hoje, e levou esse entusiasmo pela competição com eles ao redor do mundo.
A Austrália, que fica muitas vezes entre os 10 primeiros no quadro geral de medalhas, é um excelente exemplo.
Na Índia, o críquete é o esporte nacional, mas não é disputado nas Olimpíadas. A Índia também tende a se destacar no hóquei, que é disputado nas Olimpíadas, mas que só rende no máximo duas medalhas, uma para homens e outra para mulheres. Já os esportes disputados por um indivíduo, como ginástica, natação e atletismo, podem render várias por atleta.
"Em geral, não é muito bom investir em esportes coletivos", diz Forrest.
Simon Gleave, chefe de análise esportiva da empresa de dados Neilsen Gracenote, diz que são esses inúmeros fatores que tornam complicado prever a contagem de medalhas olímpicas.
Se usarmos apenas variáveis como população e PIB per capita, tenderemos a subestimar alguns dos melhores desempenhos do país.
O desempenho anterior, diz ele, é um indicador muito melhor de quem se sairá bem — mas ainda é apenas uma estimativa aproximada.
VÍDEOS: Brasil nas Olimpíadas de Tóquio
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Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/08/10/olimpiadas-de-toquio-o-quadro-alternativo-de-medalhas-que-deixa-brasil-em-8o-e-eua-em-15o.ghtml